Cinco cidadãos americanos presos no Irã durante anos retornaram aos EUA, enquanto cinco iranianos presos nos Estados Unidos também foram liberados para voltar ao país de origem.
Acordo entre EUA e Irã libertou presos nos dois países — 📷: Reuters via BBC
Um raro momento de cooperação entre os Estados Unidos e o Irã. É assim que especialistas definem um acordo de troca de prisioneiros concretizado nesta segunda-feira (18) pelos países.
Cinco cidadãos americanos presos no Irã durante anos retornaram aos EUA, enquanto cinco iranianos presos nos Estados Unidos também foram liberados para voltar ao país de origem.
A repórter da BBC, Lyse Doucet, acompanhou o momento em que os cinco prisioneiros americanos saíram do avião. Segundo ela, o alívio entre eles era evidente. Um deles, contou, falou aos seus advogados que o "pesadelo acabou".
Além da libertação, Washington se comprometeu a descongelar R$ 6 bilhões em fundos iranianos, correspondentes à venda de petróleo à Coreia do Sul.
Os dois países cortaram relações diplomáticas em abril de 1980, meses após estudantes iranianos radicais terem assumido o controle da Embaixada americana no Teerã e terem mantido dezenas de americanos reféns, após a revolução iraniana.
Anos atrás, em 2015, houve um raro diálogo quando o então secretário de Estado americano, John Kerry, se reuniu diversas vezes com o então ministro iraniano das Relações Exteriores, Javad Zarif, e fecharam um acordo nuclear histórico em julho daquele ano.
Mas desde que o ex-presidente americano Donald Trump derrubou esse acordo, em 2018, praticamente não houve mais reuniões presenciais entre Irã e Estados Unidos.
Em meio a essa desconfiança na relação entre os países, teve início um diálogo indireto que levou à troca de prisioneiros concretizada nesta segunda-feira.
Apesar disso, alguns especialistas condenaram a troca, pois avaliaram que isso pode encorajar a tomada de mais americanos como "reféns" em prisões iranianas.
Medidas após o acordo
Homem disse que 'pesadelo acabou' ao retornar aos Estados Unidos. — 📷: Reuters via BBC
O presidente Joe Biden agradeceu em um comunicado aos governos do Catar, Omã, Suíça e Coreia do Sul pelo apoio nessa troca. Porém, logo anunciou medidas contra o governo iraniano.
Assim que o avião que transportava os cidadãos americanos aterrissou em Doha, o presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou novas sanções contra o ex-presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, e o Ministério da Inteligência do país.
"Hoje, cinco americanos inocentes que foram presos no Irã estão finalmente voltaram para casa", disse Biden em um comunicado. "Ao celebrarmos o regresso desses americanos, também nos lembramos daqueles que não regressaram", afirmou ele. "Continuaremos a impor perdas ao Irã pelas suas ações provocativas na região."
Essas novas sanções, conforme anunciado pelo governo americano, visam os bens do ex-presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad por ter "fornecido apoio material ao Ministério Iraniano de Inteligência e Segurança".
Essas ações, afirma o governo dos EUA, impuseram "consequências tangíveis aos responsáveis ou cúmplices da tomada de reféns ou da detenção injusta de um cidadão dos Estados Unidos no estrangeiro".
Como resultado, mencionou o governo americano, "todas as propriedades e interesses nas propriedades" de pessoas ligadas ao ex-presidentes que estão nos EUA ou em posse de americanos serão bloqueados.
Os possíveis problemas do acordo
Mas a troca concretizada nesta segunda não representa a libertação de todos os prisioneiros americanos no Irã e pode até trazer problemas, alertaram ex-funcionários do Pentágono.
Um ex-funcionário do alto escalão do Pentágono alertou que a troca de prisioneiros pode dar aos inimigos dos EUA no exterior "mais motivos" para prender americanos.
"[O Irã] também terá o retorno de cinco de seus cidadãos que foram legalmente processados e condenados nos Estados Unidos, além do dinheiro", acrescentou. "Isso é provavelmente algo que a Rússia não aceitará."
Em entrevista à BBC, Mick Mulroy, antigo oficial paramilitar da CIA e vice-secretário adjunto da Defesa para o Oriente Médio, disse que "embora seja sempre bom ver os americanos regressarem a casa depois de terem sido detidos ilegalmente, isso pode, em última análise, fazer com que mais americanos sejam usados desta forma".
Mulroy também disse que os EUA deveriam tomar medidas para monitorar os fundos de R$ 6 bilhões, de preferência através do governo do Catar, referentes a valores obtidos por meio de exportação de petróleo, que acabou em contas restritas após o então presidente Donald Trump se retirar do acordo nuclear.