Preconceito, discriminação perdem para John Lennon da Silva (do Brasil)

Hoje vi este vídeo e pude perceber o quanto existe ainda o preconceito e a discriminação neste país, dentro de qualquer segmento social e neste vídeo em que o jovem John Lennon da Silva sofre com este problema e mostra não perceber, mas mesmo assim de forma bem simples, apresenta a sua arte com humildade e espontaneidade e nos traz um grande aprendizado sobre tudo isso.

Um grande exemplo de que não devemos julgar as pessoas por sua simples aparência, condição social, etnia e etc. 

No vídeo, fruto do programa “Se Ela Dança, Eu Danço”, do SBT; logo no início o jovem Jonh enfrenta a ironia dos jurados pelo fato de possuir o mesmo nome do famoso Beatle, a sacanagem movida pelo preconceito e discriminação. Os jurados Jarbas Homem de Mello, Lola Melnick e João Wlamir, começam a “gozar” e dizer algumas “chacotas” em relação ao seu nome. Não suficiente com a infeliz recepção ao rapaz  a apresentadora Lola Melnick, dispara contra o John Lennon, sugerindo que sua vestimenta não é adequada, e questiona: “qual é a idéia disso?”, referindo-se a sua roupa. Muito habilmente, o jovem destaca que a roupa deveria ser o menos importante naquela situação e que o que ele queria mesmo mostrar era sua dança (teoricamente a proposta do programa), mas o mesmo apenas responde que vai tentar mostrar o seu talento e ainda quando fala que vai interpretar “A Morte do Cisne”, o jurado João Wlamir, tenta mostrar que esta dança original foi produzida em 1925 interpretada pela extraordinária bailarina Anna Pavlova, como se estivesse dizendo que seria incapaz ou impossível a realização por parte do candidato Jonh Lennon da Silva. Não se deixando abalar por tudo isso, John Lennon da Silva faz uma excelente apresentação e arrancou comoção, lágrimas e elogios aparentemente espontâneos dos jurados. Assista o vídeo:


Esplendoroso! Desde já, meus parabéns John Lennon da Silva!!!

Vamos pensar e analisar um pouco sobre o que acabamos de assistir?

O jovem John Lennon da Silva, filho de uma beatleamaníaca, natural de Goiânia, mora num bairro operário da zona leste paulistana, onde divide uma casa simples, de apenas três cômodos, com cinco parentes. Tem 20 anos, nas horas vagas, integra o Amazing Break, grupo amador especializado em street dance (ou dança de rua). Sem nenhuma formação clássica, John releu a famosa obra “a morte do cisne” sob o viés do popping - estilo da street dance caracterizado por movimentos que ora lembram os de um robô, ora o das ondas. Fã ardoroso do poeta português Fernando Pessoa, o garoto também gosta de Beethoven e Chopin.

Considero os elogios dos jurados pouco verídicos, principalmente por duas pistas dadas logo após a apresentação de John; quando um deles pergunta: “qual é a sua idade?” e “QUEM É O COREÓGRAFO?”.  Como se dissessem que mesmo tendo gostado do resultado o rapaz não seria capaz de fazer aquilo sozinho. É nítido como eles mudaram sua postura após a apresentação, mas todo o preconceito inicial continuou imperando em cena e o que passou a ser elogiado, certamente, foi o que eles, os soberanos jurados, consideram belo e não enxergaram que o que acabaram de ver foi a versatilidade de uma expressão cultural como bem disse o John – “cotidiana” – e marginalizada pela sociedade hipócrita e hostil.

O vídeo mostra claramente como vários comportamentos da nossa sociedade estão repletos de preconceitos e discriminações, muitos deles travestidos de atos de comoção meramente artificial que escondem o pior da essência preconceituosa já internalizada. Elogiamos o que nos é belo, pouco contextualizando a partir das referencias e histórias trazidas por outros. Para muitos, certamente, a apresentação de John Lennon da Silva foi esplendorosa, mas será que teriam a mesma opinião se o vissem fazendo a mesma dança ao som de um Hip Hop, Funk ou um Rap? Pois é, o que vimos nada mais é do o popping, a mesma dança que a hipocrisia da nossa sociedade marginaliza, discrimina e ignora; só que desta vez com um fundo musical diferente, mais coerente como o que alguns pensam que é melhor, quando deveria ser apenas diferente, cada um com sua beleza característica.

Lamentável toda a postura dos semideuses naquela bancada, mas ao menos podemos perceber que o John Lennon da Silva, não foi atingido por toda agressividade lançada contra ele. Como já falei aqui no blog, a ironia é um comportamento agressivo, onde o emissor subestima seu interlocutor para, de forma sutil, tentar ridicularizá-lo ou diminuí-lo. Além das falas, as expressões faciais e, principalmente, a intenção dos jurados, tudo sinaliza bastante a agressividade em vários momentos.

Acontecimentos deste tipo ocorrem a cada instante e nos mais variados ambientes ou segmentos sociais... Programas de TV, empresas, ambiente de trabalho, escolas, faculdades, entre amigos, entre familiares… e mesmo que a vítima de toda essa agressividade não seja instantaneamente atingida, esse comportamento não deve ser valorizado em nossa sociedade, pois muitas pessoas sofrem com isso. É extremamente importante que as pessoas sejam respeitadas por suas escolhas, preferências, estilos, aparências… e que uma posição diferente não seja argumento para humilhar ou diminuir as outras pessoas. Assim com John, muitas pessoas passam por situações tão humilhantes quanto, mas infelizmente nem todas possuem percepção ou maturidade psíquica para enfrentar e sair destas situações ilesas. Por isso precisam de ajuda para construir as ferramentas adequadas para isso.

Parabéns John Lennon da Silva! Parabéns pelo seu caráter, pela sua simplicidade e espontaneidade, pelas suas habilidades e por ter dançado na caro do preconceito! Espero que a arte seja sempre reconhecida e valorizada independentemente de como ela pareça ser.

Hoje o talentoso John Lennon da Silva (do Brasil), faz parte do grupo do jurado João Wlamir (careca que chora)... Ironia do destino hein?!

Os Jurados...

João Wlamir - É ator, bailarino, diretor e coreógrafo. Formado pelo Teatro Municipal do Rio de Janeiro, tem no currículo os espetáculos “Uma em Quatro” e “Tristão E Isolda”. É criador e diretor do grupo de dança D.C, que se apresentou na Europa, além de ser jurado do Carnaval do Rio de Janeiro.

Lola Melnick - Cantora, atriz, bailarina, modelo e apresentadora. Viajou pela Europa e América Latina se dedicando à dança. Nascida na Ucrânia, estudou dança nas maiores escolas do País. Na França, participou de competições de Ballroom Dança de Salão. No Chile e na Argentina, trabalhou como modelo e apresentadora de TV.

Jarbas Homem de Mello - Cantor, ator, bailarino e coreógrafo. Especializado em dança flamenca, já se apresentou nos palcos de Nova York e Cuba. No Brasil, atuou nas montagens de Rent, Les Misérables, Grease e O Fantasma da Ópera. Atualmente, é diretor e protagonista do musical “Zorro”.

... depois descobrem que teriam que engolir a apresentação do rapaz.

Abaixo o Vídeo da final com John Lennon da Silva (do Brasil)

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