Marco Aurélio Carone diz ter recebido do Ministério Público oferta de penas mais leves caso aceitasse acusar deputados de oposição ao PSDB mineiro de formação de quadrilha
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Deputados do PT e do PMDB, contrários a Anastásia e Aécio, seriam alvo de falsa confissão |
São Paulo – O jornalista Marco Aurélio Carone, preso desde segunda-feira (20) acusado de integrar quadrilha que objetivava "difamar, caluniar e intimidar" políticos ligados ao PSDB, divulgou nota na manhã desta sexta-feira (24) para denunciar uma proposta de assinatura de confissão falsa que teria recebido do Ministério Público. Segundo o texto, o promotor André Pinho teria dito que a situação de Carone estaria "resolvida" caso o jornalista admitisse que o site NovoJornal, do qual era diretor, era instrumento de veiculação de notícias falsas plantadas pelos deputados estaduais Sávio Souza Cruz (PMDB) e Rogério Correia (PT), ambos integrantes do bloco parlamentar "Minas sem Censura", que denuncia a ingerência do grupo político do senador Aécio Neves (PSDB) sobre a mídia mineira.
Carone diz ter recusado a oferta, feita na presença de familiares, advogados e funcionários da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Oeste, em Belo Horizonte, onde recebia atendimento médico. O jornalista, que alega ser vítima de perseguição política por parte de autoridades mineiras aliadas de Aécio, aguarda data para ir a reunião da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais para expor publicamente seu caso. O convite para o depoimento público deverá ser oficializado pelo deputado Rogério Correia, integrante da comissão.
"O que eu e o Rogério temos em comum, e em comum com o NovoJornal, é a oposição ao governo do estado de Minas. Só isso", diz o deputado Sávio Souza Cruz (PMDB). "Não quero nem entrar no mérito do personagem [Carone], que é mesmo controverso, mas, de fato, foram muito estranhas as condições da prisão. Parece que ser de oposição em Minas, agora, dá cadeia", comenta.
Ainda segundo a nota, esta seria a segunda tentativa de autoridades mineiras de incriminar os deputados Sávio e Rogério. O lobista Nilton Monteiro, denunciante do "mensalão tucano" e que, de acordo com o Ministério Público, seria o líder da quadrilha que busca difamar o PSDB mineiro, acusa o delegado Marcio Nabak de tentar negociar com ele a delação premiada em troca das mesmas acusações oferecidas a Carone. Na ocasião, o delegado teria insistido em uma confissão que declarasse que a Lista de Furnas teria sido elaborada a pedido do petista Correia.
A Lista de Furnas
A acusação completa do Ministério Público contra Carone foi por formação de quadrilha, falsificação de documentos públicos e particulares, falsidade ideológica, uso de documento falso, denunciação caluniosa majorada e fraude processual majorada – todas acusações relativas ao contato entre o jornalista e o lobista Nilton Monteiro, que tornou pública a Lista de Furnas após ter colaborado com suposto esquema de desvio de dinheiro da estatal.
A Lista de Furnas é um documento que revela as quantias pagas a políticos de PSDB, PFL (hoje DEM) e PTB em esquema de desvio de verbas intermediado pelo publicitário Marcos Valério no ano de 2000, com o objetivo de abastecer o caixa dois de campanha desses partidos nas eleições de 2002. O caso ficou conhecido como “mensalão tucano”, por envolver os mesmos personagens e operações envolvendo as denúncias feitas contra o PT a partir de 2005 e que deram origem à Ação Penal 470.
O PSDB nega a existência do esquema, que pode ter movimentado mais de R$ 40 milhões, e questiona a autenticidade da Lista de Furnas, embora a Polícia Federal tenha comprovado, em perícia, que a lista conta com a caligrafia de Dimas Toledo, então presidente da estatal de energia. O caso aguarda julgamento no Supremo Tribunal Federal; o julgamento contra o PT foi realizado entre 2012 e 2013, e condenou 36 pessoas. Rede Brasil Atual