Acendeu a luz amarela!

 Olá, com uma queda na popularidade, o governo corre contra o tempo para aprovar o que precisa em menos de 60 dias.

.Clima de fim de festa. A Ăşltima pesquisa Genial/Quaest trouxe más notĂ­cias para o governo: queda no Ă­ndice de aprovação e aumento da insatisfação com a economia e com a atuação internacional. Na verdade, a pesquisa sĂł confirmou o que as impressões gerais já apontavam: aproximando-se do final do primeiro ano de governo, as coisas melhoram mais lentamente do que se esperava, especialmente nos Ăşltimos meses. Como se sabe, desde o inĂ­cio, Lula colocou como prioridade a recuperação da economia. Depois das dificuldades iniciais, o governo conseguiu emplacar seu novo arcabouço fiscal, o que ajudou a dar popularidade Ă  equipe econĂ´mica e criou um clima de otimismo talvez exagerado no final do primeiro semestre. A projeção do Brasil no mundo tambĂ©m ajudou o paĂ­s a recuperar a auto-estima, depois de penar quatro anos como pária internacional. PorĂ©m, de lá pra cá pouca coisa avançou. A agenda polĂ­tica foi tomada pelas eternas negociações do governo com o CentrĂŁo e mesmo assim nĂŁo conseguiu resolver o imbrĂłglio da reforma tributária. Nos Ăşltimos meses, as condições internacionais tambĂ©m mudaram e Lula viu suas agendas prioritárias - preservação ambiental, combate Ă  fome e Ă s desigualdades - serem abafadas por uma interminável sucessĂŁo de conflitos, da Ucrânia Ă  Faixa de Gaza, sem solução Ă  vista, alĂ©m dos avanços da extrema-direita na vizinha Argentina. Tudo isso, junto com uma sequĂŞncia de catástrofes ambientais e crise na segurança pĂşblica, foi suficiente para dar a sensação de letargia  nos passos do governo.

.MĂŁo Ăşnica. Na prática, a tática do Planalto para reverter o quadro continua sendo a mesma: aprovar a reforma tributária e o aumento da arrecadação para ter recursos para investimentos sociais em 2024, contando que a busca pelo dĂ©ficit zero conteria a chantagem do mercado financeiro. O problema Ă© que se a letra Ă© do governo, quem determina o ritmo Ă© Arthur Lira. A exemplo da contrapartida para que o Congresso aprovasse a taxação dos fundos exclusivos e offshore de alta renda, que custou a entrega da presidĂŞncia da Caixa para um aliado de Lira. Mesmo assim, as pressões por emendas e cargos continuam e um novo pregĂŁo já está aberto para garantir a aprovação do PL das subvenções do ICMS para os estados. E quando a Câmara entrega com uma mĂŁo, o Senado tira com a outra, como a desoneração fiscal de 17 setores empresariais, que vai na direção oposta do esforço arrecadatĂłrio do governo. Como a economia nĂŁo anda, a polĂ­tica tambĂ©m nĂŁo se move e a extrema-direita aproveita a situação para seguir pautando os temas conservadores. O suficiente para causar a primeira vitĂłria deste setor com a inĂ©dita rejeição do indicado do governo para a Defensoria PĂşblica da UniĂŁo por uma posição favorável ao aborto. Para bloquear este flanco, o governo quer convencer o STF a segurar pautas delicadas como o aborto e a descriminalização da maconha. Neste caso, a responsabilidade volta para o Planalto, porque petistas e juristas concordam que já passou da hora do presidente Lula escolher o novo procurador da RepĂşblica, em especial com o relatĂłrio da CPI de 8 de Janeiro chegando ao MinistĂ©rio PĂşblico, e indicar alguĂ©m para a vaga de Rosa Weber no Supremo. Aliás, com o fim da CPI, o tema do golpismo ficaria apenas com o Judiciário, desocupando as agendas do Executivo e do Legislativo. O que tambĂ©m devolve a atenção de Lula e dos parlamentares para o trabalho dos ministros. Com uma eleição municipal se aproximando, Lula quer ver resultados e os ministros devem entrar na corrida contra o tempo para entregar boas notĂ­cias atĂ© o fim do ano. Enquanto isso, sem conquistas materiais, a esquerda comemora vitĂłrias simbĂłlicas, como o veto parcial ao Marco Temporal, a ampliação da lei de cotas e mudanças no tĂŁo criticado Ensino MĂ©dio.

.Legado maldito. Depois da CPMI do 8 de janeiro no Congresso, foi a vez da CPI do Distrito Federal encerrar seus trabalhos, com o indiciamento de mais de 100 pessoas, dentre as quais nĂŁo se encontram nem Bolsonaro, nem o governador Ibaneis Rocha. O fato representa o encerramento de um ciclo de investigações que revelou detalhes das operações golpistas, investigações em que tiveram papel decisivo - diga-se de passagem - a PolĂ­cia Federal e o STF. Mesmo assim, ficou um gostinho amargo de impunidade na boca. Caberá a outras instituições, em especial Ă  PGR pĂłs-Augusto Aras, apurar as denĂşncias das Comissões e indiciar suspeitos, porĂ©m agora sem o alarde midiático que as CPIs fazem. Em relação a Bolsonaro, o cerco continua se fechando, no TSE e fora dele, ainda que mais lentamente do que o esperado. Os alvos tĂŞm sido aliados e familiares, como Carla Zambelli e um inexpressivo primo dos filhos do capitĂŁo. O governo, evidentemente, nĂŁo tem pressa para saborear o desgaste de um adversário cada dia mais fraco e que de preferĂŞncia acabe na prisĂŁo Ă s vĂ©speras das eleições de 2026. Já o legado deixado por Bolsonaro no submundo do aparato repressivo Ă© outra histĂłria. As revelações sobre o esquema de espionagem ilegal operado pela Abin confirmam o que antes parecia apenas teoria conspiratĂłria. O esquema, que contou com o uso de softwares para rastrear celulares, teve como alvos milhares de pessoas, incluindo polĂ­ticos, jornalistas e atĂ© juĂ­zes do STF,  foi inclusive contratado por governadores estaduais aliados do capitĂŁo. Outro legado bolsonarista difĂ­cil de extirpar sĂŁo as relações Ă­ntimas entre as forças armadas e o crime organizado, que produzem histĂłrias mal contadas. Como aquela do “desaparecimento” de armas de um quartel do ExĂ©rcito em SĂŁo Paulo, encontradas depois numa regiĂŁo do Rio de Janeiro dominada pelo Comando Vermelho, tudo isso Ă s vĂ©speras de uma onda de ataques das milĂ­cias na zona oeste da capital carioca.

.Ponto Final: nossas recomendações.

Ponto Ă© editado por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique StĂ©dile.

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