Programa Mais Médicos: Depois de dois anos, pacientes preferem os médicos cubanos

No consultório do médico cubano Iriel Gago López, na Cidade de Pentecoste, localizada na Região do Vale do Curu, no Estado do Ceará, o paciente que chega para ser atendido percebe logo uma diferença: a cadeira reservada a ele está ao lado do doutor e não separada por uma mesa. “Quero a cadeira perto de mim porque é melhor para o paciente, ser atendido de forma mais humanitária, com mais atenção, eu quero tocar na pessoa, olhar no olho, de perto. O paciente sente mais confiança nesta relação médico e paciente. A medicina tem que ser humana, é muito importante essa relação mais próxima e com tranquilidade.”, afirma o médico cubano.

O atendimento mais próximo é uma das marcas implantadas pelos médicos cubanos. Há dois anos no Brasil, eles ganharam carisma e a confiança de grande parte da população. Segundo uma pesquisa recente feita pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que entrevistou 14 mil pessoas em 700 municípios do país entre novembro e dezembro de 2014, os médicos do Programa Mais Médicos (sendo que os cubanos são 11.429 dos 14.462 médicos do programa) receberam, em média, a nota 9 pelo atendimento. 55% dos entrevistados deram nota máxima ao programa. Outros 77% garantiram que tiveram boa comunicação com os médicos e 87% elogiaram a atenção e qualidade do atendimento ao paciente.

O mesmo cenário é visto em Girau do Ponciano, também no semiárido de Alagoas. O município foi um dos primeiros a receber os médicos cubanos do programa Mais Médicos, em setembro de 2013.

No posto de saúde onde trabalha o médico cubano Dr. Iriel Gago López, a procura é maior que de outras unidades da cidade. “As pessoas vêm à procura do atendimento dele, pelo diferencial em relação aos médicos brasileiros. Os brasileiros sempre saem mais cedo, faltam ao trabalho. Ele, não. Examina sempre, atende com mais proximidade, atende todos. É diferente”, conta uma paciente que não quis se identificar. Uma outra paciente, Antônia Thalia Ferreira Pinto, "diz que todas as pessoas que são atendidas neste posto, falam bem do médico cubano Dr. Iriel, que trata as pessoas com carinho, atenção e com muita paciência". Já sua equipe de trabalho, através da Ângela Mª Soares Rodrigues (agente administrativo - que trabalha no posto de saúde), enaltece o chefe da equipe que é excepcional com todos sem nenhuma exceção e que "ele" gosta de frisar que o médico só consegue atender bem, por que tem uma grande equipe que funciona em prol do bom atendimento. Falou também que caso ele venha a sair, será uma tristeza para todos e vai ser um chororó danado.

O Ministério da Saúde, no início do programa deu prioridade aos profissionais brasileiros no preenchimento das vagas ofertadas. As vagas remanescentes foram oferecidas primeiramente aos brasileiros graduados no exterior e em seguida aos estrangeiros. Os médicos com diplomas do exterior vão atuar com autorização profissional provisória, restrita à atenção básica e às regiões onde serão alocados pelo programa. A jornada de trabalho será de 40 horas semanais, para as quais os médicos terão direito a uma bolsa de R$ 10 mil, paga pelo Ministério da Saúde. Além disso, os profissionais terão ajuda de custo para moradia e alimentação, de responsabilidade dos municípios. Os cubanos passaram por avaliações profissionais tanto em Cuba como no Brasil, sendo que nenhum médico cubano escolhe para onde vai e sim pela demanda no Programa.

O médico conta que optou pelo Programa, devido a parte financeira e deixou sua família em Cuba, restando a grande saudade que são amenizadas através da internet ou mesmo através do celular, mas se recorda de algumas dificuldades que passou logo ao chegar no Brasil.

“Tentaram nos desacreditar pela língua, mas não conseguiram. Sabíamos que a língua no começo seria um desafio, principalmente com os idosos. Mas contamos com o apoio muito grande da equipe de saúde e hoje conseguimos nos comunicar. Acho que vencemos, e somos um médico a mais aqui”, afirma.

Para o médico Dr. Iriel a vinda ao Brasil é tratada como missão. “Claro que a escolha de vir tem o lado financeiro, mais que isso: lá, desde cedo, somos ensinados a ajudar as pessoas. Vim por isso”, diz.

“Nunca tivemos dúvidas de que iríamos fazer um trabalho bem feito. A medicina é a mesma em todo lugar, e na América os problemas são parecidos, salve uma doença infecciosa ou coisa parecida. Em vez de tantos questionamentos à nossa capacidade, a sociedade médica daqui deveria se preocupar em fazer valer o código de ética, de ajudar mais as pessoas. Aqui se pensa demais em dinheiro”, afirma o médico Angel Luis Martinez. O médico divide com o primo Alexeis Farinas a missão de atender à população do distrito de Canafístula do Cipriano – pertencente a Girau do Ponciano e onde moram 6 mil pessoas.

Iriel analisa que a saúde pública brasileira tem diferenças marcantes do sistema cubano. "Falta acessibilidade. Aqui no Brasil se tem excelentes equipamentos, que Cuba, por ser pobre, não tem. Mas de que adianta ter se as pessoas não têm acesso sempre ao médico? Aqui a acessibilidade à saúde é muito difícil para quem não tem dinheiro. Lá, não é assim: todos têm acesso rápido e gratuito. No Brasil tem excelentes médicos, o que falta é um pouco mais de sensibilidade... nós temos uma formação de medicina social, não pagamos para nos formar, então retribuímos com o trabalho gratuito, humanitário, não fazemos consulta ou medicina particular... o paciente é que termina a sua consulta, o paciente é que faz o tempo de sua consulta... nós trabalhamos com no mínimo 15 minutos para cada paciente, para ter uma condição de fazer uma avaliação preliminar..." revela o médico cubano.

Pacientes e gestores elogiam

Segundo o Ministério da Saúde, 11.429 médicos cubanos atuam hoje no país. Desde de que começaram a chegar, 56 desistiram e retornaram. O tempo de permanência previsto para esses profissionais no país é de três anos. O tempo de contrato do Dr Iriel, é Outubro de 2016 e após essa data, ele disse que não sabe o que vai acontecer - " Há uma incerteza da continuidade deste trabalho aqui em Pentecoste, gosto do trabalho, é muito bom trabalhar com a secretária Madalena e com todos da minha equipe, a prefeita é legal e queria continuar..." finalizou o médico cubano.

Durante o nosso trabalho jornalistico, todos os pacientes ouvidos elogiaram muito os serviços do Dr. Iriel. “O trabalho dele é ótimo. Ele dá mais atenção, e todo mundo gosta”, conta Dona Maria do Carmo de 74 anos, uma de suas pacientes.

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