À PF, dois executivos da Queiroz Galvão negam cartel na Petrobras

Othon Zanoide e Ildefonso Colares foram presos na nova fase da Lava Jato.
Defesa dos dois dirigentes pediu à Justiça Federal revogação das prisões.

Lucas Salomão e Filipe MatosoDo G1, em Brasília e em Curitiba
O diretor-executivo da Queiroz Galvão Othon Zanoide no momento em que foi conduzido à prisão pela Polícia Federal (Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo)

Em depoimentos prestados à Polícia Federal (PF) em Curitiba, o diretor-executivo da Queiroz Galvão Othon Zanoide e o ex-presidente da construtora Ildefonso Colares Filho, ambos presos pela nova etapa da Operação Lava Jato, negaram a existência de um cartel que atuava em contratos da Petrobras. O teor dos depoimentos dos executivos foi divulgado nesta segunda-feira (17) pela Justiça Federal do Paraná. Zanoide falou aos policiais no sábado (15), e Colares Filho, no domingo (16).

Ao ser ouvido pelos delegados federais na capital paranaense, Zanoide afirmou que não sabia da existência de acordo entre as empresas do setor de infraestrutura para dividir entre si a execução de projetos da estatal do petróleo, com pagamento de propina a executivos da petroleira e partidos políticos. Ainda segundo o diretor-executivo, a Queiroz Galvão jamais pagou suborno a nenhum diretor da Petrobras.

Ex-presidente da construtora, Colares Filho também negou ter conhecimento da existência de um cartel atuando nos empreendimentos da petroleira. "Se existia, ela [a Queiroz Galvão] não participava", enfatizou. "Eu desconheço o 'clube'. Isso não existe", afirmou Colares Filho, referindo-se à expressão relatada por um dos delatores do esquema que era usada pelos envolvidos para definir o cartel.

Questionado sobre se algum diretor da Petrobras havia cobrado propina para firmar contratos com a construtora, Colares Filho foi taxativo: "não, nunca".

Na denúncia do Ministério Público Federal (MPF) que embasou as novas prisões da Operação Lava Jato na última sexta-feira (14), os procuradores da República detalharam depoimentos de dois delatores que afirmam ter pago, ao menos, R$ 154 milhões em propina a pessoas apontadas como operadores do PT e do PMDB dentro da estatal do petróleo. O suborno foi usado para garantir que grandes empreiteiras do país executassem obras bilionárias em, pelo menos, seis projetos da estatal do petróleo.

Segundo os executivos Júlio Camargo e Augusto Ribeiro, da Toyo Setal, algumas empresas formaram um cartel dentro da Petrobras em que cobravam o valor máximo previsto nas licitações e pagavam suborno equivalente a 3% dos contratos. As empreiteiras eram chamadas de "clube" pelo ex-diretor de Serviços da estatal Renato Duque.

OPERAÇÃO LAVA JATO
PF investiga lavagem de dinheiro.

Doação de campanha
Em outro trecho de seu depoimento, Zanoide afirma que conhece o doleiro Alberto Youssef, preso em março pela Polícia Federal. Segundo o diretor-executivo da Queiroz Galvão, Youssef foi apresentado a ele pelo ex-deputado José Janene, já falecido. De acordo com Zanoide, o doleiro era o responsável para intermediar e orientar sobre a forma como a empresa poderia realizar doações de campanha para o Partido Progressista (PP).

Zanoide também disse à Polícia Federal que conhece o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e que ele era responsável por orientar sobre doações ao partido. Vaccari Neto foi citado por Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef, delatores do suposto esquema de corrupção na Petrobras, como o operador de propina cobrada pelo PT nos contratos da estatal com outras empresas.

"Quando vem ano eleitoral, ano de campanha, todos os partidos políticos procuram as grandes empresas atrás de doações [...] Fui procurado pelos arrecadadores de campanha, entre eles me recordo do João Vaccari [Neto], do PT. Fui procurado por diversos políticos", disse Zanoide.

Ao falar à PF, Colares Filho disse que as doações aos partidos eram feitas "dentro dos parâmetros da lei" e que eram feitas para aquelas legendas "que mais se caracterizam com as características da empresa".

"Me recordo de doações para o PT, PMDB, PP e mais alguns", disse Colares Filho sem dizer quais eram os outros partidos.

Ao ser indagado sobre se fez ou orientou alguém a fazer repasses de recursos para representantes de partidos, como João Vaccari Neto ou José Janene, ele negou.

"Fiz e orientei as doações para os partidos que eles representavam", afirmou.

Revogação das prisões
Nesta segunda-feira (17), os advogados de Othon Zanoide e Ildefonso Colares Filho entraram junto à Justiça Federal do Paraná com pedido de revogação das prisões temporárias expedidas contra os clientes.

Eles estão presos na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba (PR), junto de mais 21 pessoas detidas na nova fase da operação da Polícia Federal, deflagrada na sexta (14). Não houve mandado de prisão expedido contra outros funcionários da empresa.

No documento, direcionado ao juiz federal Sérgio Moro – responsável pelos processos da Lava Jato em primeira instância –, os advogados de Zanoide argumentam que não houve intimação anterior ou de inquérito policial enviada ao cliente; que o depoimento do diretor da Queiroz Galvão já foi colhido; e que não há necessidade da continuidade da prisão do cliente.

“Resta evidente a inexistência de elementos concretos de que o peticionário [Othon Zanoide]  possa oferecer qualquer risco às investigações. Pelo contrário, os eventos dos últimos dias e os documentos ora juntados reforçam a necessidade de sua soltura”, argumenta a defesa.

Por sua vez, os advogados de Ildefonso Colares Filho argumentam no pedido ao juiz Sérgio Moro que houve apresentação voluntária após a prisão temporária ter sido decretada; que não houve intimação anterior ou de inquérito policial enviada ao cliente; que o depoimento do diretor-presidente da Queiroz Galvão já foi colhido; e que não há necessidade da continuidade da prisão do cliente.

“Nunca houve, tanto que não está indicado nos autos, qualquer comportamento que revelasse, mesmo indiretamente, qualquer interferência na investigação e, assim, justificasse sua manutenção [de Colares Filho] na prisão”, argumentaram os advogados.

Saiba mais

Depoimentos
Ao menos sete dos 23 presos na Operação Lava Jato prestaram depoimento nesta segunda-feira na Polícia Federal em Curitiba, segundo afirmaram alguns advogados que estiveram na sede da PF na capital paranaense.

Foram chamados a depor pela polícia cinco presos ligados à Construtora OAS, um à Galvão Engenharia e outro à Iesa. Os da OAS, porém, segundo afirmou o advogado Juliano Breda, foram orientados a permanecer em silêncio. Os outros dois, segundo suas defesas, responderam as perguntas feitas pelas autoridades.

A Polícia Federal começou a tomar os depoimentos no sábado (15), um dia após ser deflagrada a sétima fase da operação, batizada de “Juízo Final”. Neste domingo (16), mais depoimentos foram colhidos e a expectativa da PF é que esta fase da Lava Jato seja concluída até esta terça (18).

Operação Lava Jato
A operação investiga um esquema de lavagem de dinheiro que teria movimentado cerca de R$ 10 bilhões e provocou desvio de recursos da Petrobras, segundo investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal. Na primeira fase da operação, deflagrada em março deste ano, foram presos, entre outras pessoas, o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa.

A nova fase da operação policial teve como foco executivos e funcionários de nove grandes empreiteiras que mantêm contratos com a Petrobras que somam R$ 59 bilhões. Parte desses contratos está sob investigação da Receita Federal, do MPF e da Polícia Federal. Ao todo, foram expedidos, nesta sétima etapa, 85 mandados em municípios do Paraná, de Minas Gerais, de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Pernambuco e do Distrito Federal.

Conforme balanço divulgado pela PF, além das 23 prisões, foram cumpridos 49 mandados de busca e apreensão. Também foram expedidos nove mandados de condução coercitiva (quando a pessoa é obrigada a ir à polícia prestar depoimento), mas os policiais conseguiram cumprir seis.


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