A Globo e o ódio pelo ENEM

Mau dia Brasil e o ódio pelo Enem
Davis Sena Filho


24 de outubro de 2013

Os governos trabalhistas de Lula e Dilma efetivaram uma rede de proteção social no que diz respeito à educação. E é isto o que mais incomoda a Casa Grande de tradição escravocrata


Nos próximos sábado e domingo, dias 26 e 27 de outubro, vai ser realizada a quinta edição do novo Exame Nacional de Ensino Médio (Enem). O exame é o segundo maior do mundo, com 7.105.903 candidatos inscritos, e já incluiu mais de um milhão de jovens pobres, negros, indígenas nas universidades públicas, até então reduto das classes média tradicional e alta, ou seja, da burguesia. No mundo, somente a China tem um exame de inclusão social ao ensino público maior do que o do Brasil.


Aos que ficam a ouvir e ler as notícias negativas sobre o Enem repercutidas pela imprensa de negócios privados, salutar se torna também informar que o Enem tem apenas a finalidade da avaliar o ensino médio. Já o Sistema de Seleção Unificada (Sisu) serve como processo seletivo, que tem como base as notas dos candidatos do Enem. O processo é tão democrático que possibilita aos aprovados consultar as vagas disponíveis das faculdades e universidades, bem como saber dos inúmeros cursos que são oferecidos.

Contudo, ligo a televisão e me deparo como o Mau Dia Brasil, da Rede Globo. Vejo e ouço dois dos porta-vozes da Casa Grande, os apresentadores Chico Pinheiro e Ana Paula Araújo, a noticiar sobre o Enem. Eles tem um ar de deboche e acionam os apresentadores de São Paulo e Brasília para também participar da matéria sobre o exame que incluiu centenas de milhares de brasileiros na universidade pública e, consequentemente, elevou a autoestima de milhares de brasileiros, sendo que muitos dos filhos de famílias pobres são os primeiros de tantas gerações a ingressar em um sistema educacional que privilegiava aqueles que no decorrer de suas vidas estudantis frequentaram escolas particulares, caras e tradicionais.

Os governos trabalhistas de Lula e Dilma efetivaram uma rede de proteção social no que diz respeito à educação. E é isto o que mais incomoda a Casa Grande de tradição escravocrata. “Como pode — ela se pergunta — pobres, negros, índios e portadores de necessidades especiais frequentarem a mesma escola que eu frequento há mais de cem anos?” E eu respondo: “Pode!” O que não se deve aturar é preconceito de coxinha metido a besta e que pensa que o País é um lugar VIP para os “bem nascidos”.

Por isso, temos matérias cretinas como a apresentada pelo Mau Dia Brasil, que se esforça ao máximo para desqualificar e desconstruir o Enem, que é um exame democrático, justo e de inclusão social, a exemplo do Bolsa Família, do Luz para Todos, do Previdência Social, do Saúde da Família, do Rede Cegonha, do Brasil Alfabetizado, do Mais Educação, do Brasil Sorridente, do Minha Casa Minha Vida, dentre outros programas, que visam combater a miséria, a pobreza e incluir, definitivamente, grande parte da população brasileira no mercado de emprego e de consumo.

Contudo, com o propósito de concretizar esse processo, urge fazer com que o brasileiro estude para que possamos, em futuro próximo, transformar o Brasil em uma nação de classe média, porque para o socialismo ser implementado em um país capitalista, grande e diversificado como o Brasil, torna-se imperioso enfrentarmos um processo lento, que demanda tempo e convencimento, por se tratar de uma doutrina econômica e política que requer rompimento com o establishment, e, por conseguinte, iniciar-se uma nova ordem política, econômica e social.

O objetivo é transformar a sociedade. Entretanto, torna-se necessário distribuir riquezas e propriedades, de forma equilibrada, pois que o desejo é diminuir a distância entre pobres e ricos e, por sua vez, realmente edificar um estado de bem-estar social. Porém, as classes sociais abastadas e proprietárias dos meios de produção e serviços reagem aos avanços conquistados pela maioria da população. A reação é levada a efeito pelos partidos políticos de direita e de suas caixas de ressonância materializadas em diversas mídias, principalmente na imprensa de mercado, que por muito tempo teve em suas mãos o monopólio da informação.

A imprensa que sataniza os partidos, os políticos, os grupos sociais e as instituições que, porventura, não rezam por sua cartilha reacionária, conservadora e de caráter hegemônico. A imprensa do pensamento único e que se nega a dar direito de resposta a quem é difamado e caluniado. A mesma imprensa do jornalismo meramente declaratório e que se recusa a ouvir o outro lado, procedimento que qualquer jornalista iniciante sabe que tem de ser feito para que o leitor, espectador ou ouvinte possa formular seu juízo de valor para comparar as diferentes versões e, por seu turno, discernir sobre os fatos e as realidades acontecidos e repercutidos.

Informação e educação caminham juntas. São irmãs siamesas. E é por saber disso que os grupos econômicos privados tentam controlar os meios de comunicação e sabotar programas de governo e projetos de país que visem, sobretudo, emancipar os povos e em especial o povo brasileiro vítima de uma burguesia perversa, egoísta, provinciana, preconceituosa e de passado escravocrata. A burguesia entreguista e colonizada, bem como arrogante e prepotente com os mais fracos, ao tempo que vergonhosamente subserviente e aduladora daqueles que ela considera ser suas cortes. A burguesia brasileira tem a alma prostituída, além de um incomensurável e inenarrável complexo de vira-lata.

Por isso, ela tem de ser duramente combatida para que o Brasil avance e se torne realmente um País para todos os brasileiros. E a revolução começa pela educação pública, de boa qualidade e aberta para todos que nascem neste colosso tropical que é o Brasil. Se não há espaço e nem meios no momento para a efetivação de uma revolução socialista, que se faça as reformas necessárias para que o povo seja inserido no contexto do consumo e do estudo, pois se as pessoas estudam e consomem elas, por si sós, darão conta de providenciar a melhoria na qualidade de suas vidas, bem como vão ter discernimento do País que elas querem para seus filhos e as gerações vindouras.

A educação é a revolução. E sem justiça social não há paz. As reformas estão a acontecer desde 2003 quando o presidente Lula sentou na cadeira da Presidência da República, bem como a presidenta Dilma Rousseff continua a caminhar na mesma trilha do desenvolvimentismo e do trabalhismo. Somente por intermédio da educação faremos com que a ignorância e o egoísmo dos que reagem contra a inclusão social sejam derrotadas.

Quando os áulicos da Casa Grande de forma sistemática criticam açodadamente o Enem e tudo que gravita em torno dele, a exemplo do Sisu, do Fies e do Prouni é sinal que tais programas estão em um caminho certo, sem volta ao passado e que desagrada, sobremaneira, as “elites” brasileiras associadas aos grandes capitalistas, aqueles que defendem a diminuição do estado, a venda do patrimônio público e que quando metem as mãos pelos pés correm como cachorrinhos esfomeados a pedir comida para salvar o que restou de seus patrimônios, sem, contudo, esquecer de enviar para os paraísos fiscais os milhões que ainda lhes sobraram, pois conquistados por meio de sonegações.

Vinte e dois milhões de pessoas estão a ser atendidas pelo Governo trabalhista. Os programas reduziram em 13% as desigualdades sociais. Além disso, 13,8 milhões de pessoas são atendidas pelo Bolsa Família, o que ajudou, e muito, para que o Brasil diminuísse em mais de 55% a pobreza e a extrema pobreza em apenas uma década, segundo o relatório “A Década Inclusiva (2001/2011): Desigualdade, Pobreza e Políticas de Renda”, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e produzido pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2011 (Pnad).

O Brasil cumpriu a meta do milênio no que concerne à diminuição da pobreza em apenas dez anos, o que era previsto para ser realizado em um tempo de 25 anos. E aí vem a direita e os que se associaram aos inquilinos desse campo político e ideológico reacionário e violento para afirmar, sem qualquer responsabilidade do que falam, que vão fazer mais e melhor, sendo que quando estiveram no poder não fizeram nada, pois nem acesso ao emprego o povo brasileiro teve nos tempos do vendilhão da pátria, Fernando Henrique Cardoso — o Neoliberal I —, aquele que foi ao FMI três vezes, humilhado, pois de joelhos e pires nas mãos a mendigar esmolas, porque quebrou o Brasil três vezes.

Todos esses fatores, além de muitos outros não citados neste artigo, favorecem o que os economistas estruturalistas, desenvolvimentista e o próprio presidente Lula chamam de ciclo virtuoso, que fomentou e ainda fortalece a economia interna, que por sua vez ajudou o Brasil a não sentir muito a crise internacional de 2008. A crise que derreteu as economias de países europeus e prejudicou enormemente os Estados Unidos e o Japão, bem como mostrou, inapelavelmente, que o neoliberalismo é uma doutrina que colocada em prática tem por finalidade concentrar renda e riqueza, apostar na jogatina dos mercados de capitais, favorecer os rentistas e prejudicar quem produz para beneficiar os banqueiros e os governos dos países ricos, que determinam como o sistema mundial hegemônico deve proceder, a fim de sugar as riquezas dos países periféricos e emergentes, além de explorar a mão de obra barata dos povos pobres, em forma de rapinagem e pirataria.

Voltemos ao Mau Dia Brasil. Chico Pinheiro e Ana Paulo Araújo, além de os “âncoras” de Brasília e de São Paulo falavam sobre o Enem de mais de 7 milhões de inscritos em tom de pilhéria e desdém. A reportagem anunciada por Chico Pinheiro e veiculada na tela das Organizações(?) Globo iniciou assim: “No próximo final de semana, sete milhões de estudantes vão fazer as provas do Exame Nacional do Ensino Médio. Desta vez, o Ministério da Educação promete um exame sem sobressaltos”.

A partir da chamada, a matéria passou a falar dos “sobressaltos”, evidentemente com o propósito de superdimensionar os erros e equívocos acontecidos em anos anteriores, e, consequentemente, desqualificar para diminuir a importância do Enem e, por seu turno, fazer com que milhões de pessoas, ainda jovens e em formação, passem a ter a sensação de insegurança, além da calar em suas mentes e corações a desconfiança de um processo escolar excepcional, que deveria ser valorizado e admirado, pois se trata de um exame complexo, com um número de inscritos que supera a população de vários países, a exemplo do Uruguai, e que por sua grandiosidade os erros que aconteceram são infinitamente inferiores em relação às suas virtudes.

E o narrador da matéria global sabotadora dizia: “Em 2009, a prova foi furtada em uma gráfica (...)”. Mas o senhor Chico Pinheiro, editor-chefe do Mau Dia Brasil “esqueceu” de lembrar que a prova foi roubada na gráfica da “Folha de S. Paulo” por um contratado dela. Tal pasquim de direita é aquele diário que emprestava, na ditadura militar, seus carros para os torturadores na década de 1970, e que, na maior cara de pau e cinismo, publicou o ocorrido do furto da gráfica como manchete de capa do jornal. Depois a pseuda reportagem relembrou as “falhas” do Enem em 2010. Neste ano, alguns inscritos foram vítimas de vazamentos sobre seus dados pessoais. Uma professora de Remanso (BA) teve acesso às provas e repassou para seu filho. O fato foi relato por um professor de cursinho de Petrolina, que denunciou o ocorrido. Porém o Mau Dia Brasil mais uma vez não mostrou essa ocorrência.

Além disso, ainda em 2010, um dos cadernos da prova continha erros. A gráfica RR Donnelley, a maior do mundo, assumiu as falhas e declarou ao governo e ao público que houve erros de impressão em 0,3% das dez milhões de provas. É isto mesmo: dez milhões de provas e 0,3% de erros. A empresa considerou que o índice de erro é pequeno e que está dentro de uma margem esperada para um processo industrial de larga escala. Contudo, a imprensa superdimensionou novamente, porque os barões magnatas que controlam as mídias no Brasil fazem política, tem lado e escolhem candidatos, sempre os de e da direita.

A falha virou um “escândalo” de gigantescas proporções e quase tais magnatas fecham as portas do Ministério da Educação e terminam de vez com o Enem com a finalidade de impedir o acesso dos pobres à universidade pública. Seria cômico se não fosse trágico e ridículo, porque o “escândalo” não colou. E sabe por quê? Porque os milhões de alunos candidatos sabem que o Enem inclui, é justo, público e democrático, bem como compreendem que a imprensa burguesa, corporativa e sectária defende os interesses empresariais, dos ricos e que luta contra a distribuição de renda, de riqueza, além de ser contrária à independência do Brasil e à autonomia do povo brasileiro.

Em 2011, o Enem foi novamente alvo de irregularidades e patifarias, ou seja, o boicote e a sabotagem continuavam. A finalidade era mais uma vez esvaziar e desqualificar o exame, com o apoio e a cumplicidade, evidentemente, da imprensa comercial de caráter golpista. Alunos do Colégio Christus, de Fortaleza, tiveram acesso a quatorze questões. A Polícia Federal investigou e constatou que o vazamento poderia ter acontecido em um teste formulado pelo Inep realizado em 2010. Apenas 639 provas foram invalidadas em um contexto de milhões de provas aplicadas pelo Enem em todo o Brasil. Pronto! Mais uma vez os porta-vozes da Casa Grande e os mensageiros da dor e da agonia transformaram o vazamento em outro “escândalo” de proporções planetárias.

Contudo, o Chico Pinheiro e a Ana Paula Araújo e seus colegas de Mau Dia Brasil não tocaram neste assunto. Óbvio. Eles fazem um jornalismo mequetrefe, porque aproveitaram uma concessão pública para fazerem suas assertivas ao tempo que não dão o direito de alguém do Ministério da Educação rebater tais vilanias, manipulações e mentiras. Creio que essas pessoas pelo menos não devem pensar, lá com seus botões, que elaboram e efetivam um jornalismo de verdade e isento e imparcial para falar dos fatos e das realidades. Será?

Bem, já em 2012 e apesar de toda a propaganda contra o Enem, as inscrições superaram todos os números, pois um verdadeiro recorde até então. Quase 6,5 milhões de candidatos se inscreveram e com isso o Governo trabalhista percebeu que o Enem é como massa: quanto mais apanha, mais a massa cresce. Neste ano, as fraudes, as trapaças e as sabotagens foram evitadas. Entretanto, em 2013, as falsas polêmicas retornaram, e os motivos eram concernentes aos métodos de correções das redações, considerados demasiadamente permissivos ou tolerantes. Um aluno escreveu como redação uma receita de miojo, o que gerou descontentamento a quem não passou. O Governo trabalhista reconheceu o erro e tratou rapidamente de não permitir que aconteça tais fatos novamente. Quem o fizer, não passará na prova. Ponto.

As provas a serem realizadas neste fim de semana vão ter um enorme e sofisticado esquema de segurança. Todavia, a humanidade é a humanidade e sempre alguém vai tentar burlar a segurança e, consequentemente, fraudar as provas e assim prejudicar a imensa maioria que presta exames de forma legal e honesta, além de sonhar com dias melhores, principalmente aquele que nasceu em berço da classe pobre e que espera, geração após geração, formar-se em uma faculdade, apesar do ódio elitista pelo Enem.


Contudo, o Mau Dia Brasil e o restante da imprensa de negócios privados estão à espera de falhas, fraudes e até mesmo que algum criminoso, a serviço de “sujeitos ocultos”, consigam criar um novo “escândalo”, e, por seu turno, dar oportunidade de a imprensa burguesa repercuti-lo com estardalhaço, com o propósito de mais uma vez dizer ao povo brasileiro que o Enem não presta. Afinal, o que presta para tal imprensa de desejos inconfessáveis são os cursinhos e os colégios, as faculdades e as universidades particulares sem qualidade comprovada e pagos a peso de ouro com o suor dos trabalhadores e dos pais de milhões de jovens que não tiveram acesso ao ensino público superior. Mas não vai adiantar, pois o número é este: 7.105.903 candidatos. Sorry periferia. É isso aí.

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