"A aparente rendição de Bolsonaro é uma estratégia escancarada. Bolsonaro tem poucos dias para tentar alguma coisa", alerta Eduardo Guimarães
Como sempre ocorre, o bolsonarismo apela para ataques-surpresa. A criatividade dos Bolsonaro e seus asseclas deriva da assessoria da extrema-direita norte-americana, Steve Bannon à frente, com monitoramento de Donald Trump e outros menos eminentes.
A comemoração da vitória de Lula e a aparente rendição de Bolsonaro ao inevitável não podem nos cegar. Aliás, o mesmo Bolsonaro acaba de passar pelo Cercadinho e dizer que "não desistiu", sem especificar se é da reeleição ou da política.
O fato é que os filhos 1, 2 e 3 trabalham ferozmente para que o pai não aceite a derrota, assim como seus aliados norte-americanos e a militância bolsonarista mais radical.
Bloqueios de caminhões continuam sendo convocados e levados a cabo, manifestações infernizam as cidades. O meu bairro (região da avenida Paulista) vive um inferno há uma semana. Hordas de verde-amarelo infernizam a região. No último domingo, estava intransitável não só pelos carrões caros atrapalhando o trânsito e cheios de adereços bolsonaristas, como o Pavilhão Nacional. Há uma grande quantidade deles nas ruas.
O aspecto da extrema-direita é que ela enfrenta os revezes como se fossem vitórias...
A aparente rendição de Bolsonaro, por sua vez, é uma estratégia escancarada. Como diz um colunista da grande mídia, ele vestiu a "pele de cordeiro". Porém, não se sabe até quando.
Bolsonaro tem poucos dias para tentar alguma coisa. Claro que, inicialmente, aceitou fazer a transição por via das dúvidas. Mas o início do processo de transferência de poder pode ser suspenso na hora em que ele quiser.
Bolsonaro denota que não lhe caiu a ficha, ou que ele acha que ainda tem o mesmo poder de antes mesmo após ser derrotado. Irritou-se com a aceitação, por Lula, de participar da Conferência do Clima no Egito, a COP27. Chamou o presidente eleito de "usurpador" por aceitar o convite para participar.
Enquanto isso, não se sabe o que os militares pensam, mas no domingo, dia 6, o chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, general Augusto Heleno, disse que se o governo federal ficar "na mão do cachaceiro, não vai dar certo".
Se ficar na mão do "cachaceiro"?! Como assim?! Por que o uso do condicional?! Não é "se", é quando. Não foi algum bolsomínion idiota quem disse isso, foi um general do Exército Brasileiro.
Lula já anunciou que vai demitir 8 mil militares. Como reagirão à perda das boquinhas? Claro que isso é inevitável. Os militares custam uma fortuna ao país. Para cada um que for demitido, três ou quatro servidores poderão ser contratados. Mas os milicos vão perder as boquinhas com doçura e resignação? Será?
O que fazer? Abrir os olhos e tentar antecipar o que podem estar tramando. Ninguém fazia ideia do movimento dos caminhoneiros contra a decisão eleitoral do povo brasileiro. Fomos pegos de surpresa. Eles sempre surpreendem. Afinal, têm muita assessoria vinda de especialistas norte-americanos e sabe-se lá de onde mais.
Em benefício da verdade, não será possível relaxar mesmo que a posse de Lula transcorra sem maiores problemas. Porque os golpistas estarão à espreita. E, para isso, contam com a possibilidade de um golpe real.
A esquerda elegeu uma bancada mais do que insuficiente para barrar, por exemplo, um golpe parlamentar como o de Dilma -- a esmagadora maioria dos eleitores de Lula não votou nos parlamentares ligados a ele (?!).
A esta altura, tudo o que resta é manter a mobilização nas redes, nas ruas e na cabeça. Lula vai ao encontro dos mais importantes chefes de Estado e de governo do planeta. Estará com o presidente norte-americano, Joe Biden, o primeiro que ligou para parabenizá-lo pela vitória.
Na COP27, Lula será incensado pelas grandes potências mundiais. E isso vai conter um pouco os arroubos golpistas verde-oliva. Mas, como sabemos, golpes de Estado acontecem todo dia, no mundo todo, e à revelia do que pensam os EUA, a União Europeia etc.
Não podemos ser pegos de surpresa de novo. Olho aberto. Comemoração é saudável, vibrar com a expectativa de justiça para Bolsonaro é até um dever cívico, mas não nos esqueçamos do tipo de golpismo fascista e diabólico que está do outro lado.
Este artigo é de responsabilidade do Blog da Cidadania.