Últimas horas e uma chance

O biênio 2020/2021 no Brasil foi duríssimo para todos. Desemprego, fome, pandemia, crise econômica e fortalecimento do neofascismo contribuíram para vivermos nosso pior momento desde a redemocratização.


Nada indica, entretanto, que 2022 será menos terrível. Pelo contrário. E nós precisamos falar sobre isso antes que seja tarde.

Pensando bem, se eu for falar do que nos espera no próximo ano, este texto vai virar um livro e você vai desistir de mim antes de chegar à metade. Prometo não azedar (ainda mais) essas últimas 72h de 2021. Quero apenas focar em três aspectos que me parecem cruciais.

1 - A eleição será uma guerra

Não sei se você viu, mas há algumas semanas, faltando poucos dias para o segundo turno das eleições chilenas, Gabriel Boric, candidato (agora eleito) da Frente Ampla de esquerda, foi às redes sociais e publicou um exame toxicológico. O objetivo era desmentir José Antonio Kast, candidato da extrema direita, que havia insinuado que Boric seria usuário de drogas. Não vou entrar no mérito da questão, apenas chamo a atenção para o absurdo. Mas você pode ter certeza: isso é fichinha perto do que veremos nos próximos meses no Brasil. Vamos precisar de muita paciência, disposição e astúcia para enfrentar o Bolsonarismo 2.0, detentor da máquina pública, dono do cofre das emendas e com seu Gabinete do Ódio turbinado.

2 - O jornalismo que temos não é o jornalismo que precisamos

Um amigo chamou minha atenção: “o jornalismo declaratório achava pouco publicar as idiotices diárias do presidente, agora publica também as de Sergio Moro”. É verdade. Quase que diariamente vemos na imprensa algo dito por Bolsonaro sem qualquer contexto, sem destacar que ele mente, e agora temos que conviver também com as opiniões de Sergio Moro sobre qualquer assunto que ele não domine. Sim, a grande imprensa já tem um candidato. A mídia independente sobrevive aos trancos como pode. Em resumo: normalmente faltam recursos para que os veículos possam garantir as melhores condições para seus repórteres. E aqueles veículos que possuem recursos, nem sempre têm vontade, você sabe, de cobrir o que realmente é de interesse público. Basta lembrar que o principal jornal carioca, um dos maiores do país, até hoje não publicou nenhuma linha sobre a Vaza Jato e as obscenas conversas entre procuradores e juiz. 

3 - A crise não acabou.

Em poucas palavras: vamos enfrentar uma eleição duríssima e decisiva para o futuro do país, sem uma imprensa autônoma e forte e em meio a uma crise econômica e institucional que se arrasta há anos. O que uma coisa tem a ver com a outra? Tudo! A crise afeta a escolha dos eleitores, favorece o fortalecimento da imagem de pessoas que se apresentam como verdadeiros salvadores e fomenta a instabilidade que tanto agrada ao Bolsonarismo. A crise também dificulta a vida de jornalistas independentes e sobre isso posso falar com propriedade. A gente sentiu na pele a debandada de apoiadores. A maioria nos enviou mensagens dizendo que pretende retornar “quando as coisas melhorarem”. 




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