Policial tentou armar duas operações falsas, uma delas contra o então candidato a prefeito, com a intenção de influenciar no resultado das últimas eleições municipais.
👆 Rio de Janeiro 30/06/2021. Delegado Maurício Demétrio preso em operação da MP, suspeito de cobrar propina para não reprimir pirataria em Petrópolis. Na foto, o delegado chegando na corregedoria. Foto Fabiano Rocha/ Agência O Globo.
RIO — O delegado da Polícia Civil Maurício Demétrio Afonso Alves muitas vezes esteve envolvido em polêmicas durante a sua trajetória na corporação. Após começar na instituição em 3 de maio de 2001, Demétrio já passou por diversas delegacias, quase todas especializadas — Entre elas as Delegacias do Meio Ambiente (DPMA), do Consumidor (Decon), de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA) e a de Repressão aos Crimes Contra a Propriedade Imaterial (DRCPIM). Foi nesta última que, segundo o Ministério Público do estado, o policial usava a estrutura para negociar e cobrar propina de comerciantes da Rua Teresa, em Petrópolis, na Região Serrana. Antes de ser preso, em junho, Demétrio chegou a ganhar uma monção de congratulações e louvor da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), dada pelo então deputado André Luiz Lazaroni de Moraes, conhecido como André Lazaroni, anteriormente conhecido como André do PV. O reconhecimento foi em 2003. Anos depois ele seria acusado de usar a Polícia Civil para extorquir dinheiro de comerciantes, criar dossiês contra desafetos e de tentar interferir nas investigações do caso da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista, Anderson Gomes.
- Em 2008, Demétrio vem a público denunciar o ex-chefe de Polícia Civil e deputado cassado, Álvaro Lins (PMDB), por distribuir cargos em delegacias do Rio em troca da conivência com o jogo ilegal em máquinas de caça-níqueis e da arrecadação de propina. À época, Maurício era lotado como delegado adjunto na Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis. O caso ficou conhecido como "grupo dos inhos".
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- Naquele mesmo ano, Demétrio disse que processaria Anthony Garotinho por calúnia qualificada, injúria, difamação e ainda ajuizou uma ação por danos morais depois de ser acusado pelo ex-governador de tentar supostamente extorquir, em 2003, dinheiro de empresários da Tribel, do grupo Bayer, em Belford Roxo, durante o cumprimento de um mandado de busca e apreensão expedido pela Justiça estadual. Segundo o delegado, que na época era lotado na Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente, ele não respondeu e nem foi denunciado à corregedoria por qualquer acusação de corrupção. Demétrio lembrou que nem mesmo os empresários falam em extorsão, mas em uma suposta truculência do delegado durante o cumprimento da medida judicial.
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- Demétrio confirmou que, em 2003, ter ido à empresa Tribel, do grupo Bayer, em Belford Roxo, cumprir um mandado de busca e apreensão expedido pela Justiça. Ele contou que, na ocasião, prendeu um dos diretores da empresa por desacato. Ainda segundo o policial, outro diretor da Bayer reclamou da ação policial com Garotinho, por intermédio da Firjan. Mas em momento algum os empresários falaram em extorsão, apenas em truculência. Em seguida, Demetrio foi transferido para uma delegacia da Baixada. O delegado ressaltou que, se houve como Garotinho diz uma tentativa de extorsão, nenhuma investigação sobre essa denúncia foi feita.
- Ao longo dos anos o delegado fez vários operações. Todas elas divulgadas na imprensa. Em 2019, o coronel Rubens Castro Peixoto Júnior, então subsecretário de Inteligência da Polícia Militar, foi exonerado após Demétrio deflagrar uma operação contra PMs do órgão que, segundo o delegado, eram suspeitos de extorsão. De acordo com a investigação da DRCPIM, os alvos fingiam ser policiais civis da especializada para inspecionar lojas no Rio.
- Um ano depois, Demétrio faria uma operação contra oito fiscais do Instituto de Pesos e Medidas (Ipem), presos por suspeita de extorsão no Feirão das Malhas, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. A ação custou o cargo do então presidente do órgão, o engenheiro Luís Machado dos Santos. Dias depois ele foi demitido pelo então governador.
- Em março de 2020, Maurício Demétrio, segundo o MP, foi o mentor de uma operação falsa com a intenção de obstruir e enfraquecer investigações que já estavam em andamento contra ele e seu grupo. Maurício Demétrio chegou a envolver e prender em flagrante o delegado Marcelo Machado Portugal, quem justamente o investigava. Machado foi solto logo após pagar fiança. Ao longo das investigações ficou constatado que Demétrio queria prejudicar Portugal, seu desafeto.
- Em 30 de junho de 2020 Demétrio é preso. Após a ação, surgiu uma série de novas denúncias contra ele. Entre elas, está a acusação da advogada Carolina Araújo Braga Miraglia de Andrade, que disse ter sido vítima de assédio sexual em 2019. Na ocasião, Carolina e a sócia dela, a advogada Mariana Farias Sauwen de Almeida, foram à Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Propriedade Imaterial levar a queixa da cliente Izaura Garcia de Carvalho Mendes, de então 65 anos, com um falso registro da Biblioteca Nacional acusando o Padre Marcelo Rossi de plágio. Comprovada a fraude, Maurício Demétrio decretou a prisão das três por uso de documento falso, formação de quadrilha, denunciação caluniosa e estelionato. Ambas foram inocentadas. Carolina contou que se sentiu intimidada pelo titular da especializada, que usava do cargo que possuía, para tentar se aproximar dela.
- Outra denúncia contra Demétrio partiu das promotoras Simone Sibilio e Letícia Emile, que eram responsáveis pelas investigações das mortes da vereadora Marielle Franco e do motorista dela, Anderson Gomes. Segundo elas, o delegado teve acesso a informações sobre o caso, que está sob segredo de Justiça. O MP confirma a denúncia.
Equipe do Ministério Público encontrou 👆 cerca de R$ 300 mil em apartamento do delegado Mauricio Demétrio durante ação Foto: Reprodução
- A Corregedoria da Polícia Civil também apura o caso em que o delegado prendeu o gerente de uma loja de condimentos em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, por conta de produtos que estavam sem etiqueta informando data de validade. O comerciante teria sido preso por não pagar uma fiança a Demétrio, mas foi solto no dia seguinte. O caso aconteceu em junho deste ano.
👆 Dinheiro, armas, relógios e distintivo da Polícia Civil foram apreendidos na casa do delegado Mauricio Demétrio Foto: Reprodução
- No dia 27 de dezembro a Justiça do Rio decretou nova prisão de Demétrio, após o Ministério Público do Rio analisar o conteúdo de celulares do delegado. O material revelou que ele negociava o pagamento de propina para mudar o resultado de investigações. E que também usou a estrutura da polícia para tentar armar falsas operações. Além disso, Demétrio usou o sistema da Civil para criar um dossiê contra o ex-presidente do Tribunal de Justiça do Rio, o desembargador Luiz Zveiter e sua esposa. Glauco Costa Santana, filho da promotora Gláucia Santana, atual chefe de gabinete do procurador-geral de Justiça do Rio, também deve dados levantados.
- Promotores do Ministério Público (MPRJ) acusam o delegado Maurício Demétrio de tentar armar duas operações falsas, uma delas contra o então candidato a prefeito do Rio Eduardo Paes, com a intenção de influenciar no resultado das eleições. Paes reagiu e chegou a chamar o delegado de "vagabundo". Na outra, seriam colocadas drogas em um carro usado pela Corregedoria da Polícia Civil que tinha aberto uma investigação contra ele.