Boi fake e presidente de araque

Olá! Afinal, quem é o presidente do Brasil: o militar simpatizante das monarquias árabes ou o ex-operário tratado como estadista na Europa? E em casa, Bolsonaro será salvo pelo Auxílio Brasil e conseguirá um partido para chamar de seu? Acompanhe aqui.

Voando no tapete. Com Lula visitando a Europa, pudemos sonhar como seria bom se o Brasil tivesse um estadista. O seu périplo pela Europa se tornou o exato oposto da imagem de Bolsonaro isolado no G20, com o petista se encontrando com os mesmos líderes que deixaram Jair de castigo num cantinho. Por onde passou, Lula foi aplaudido e tratado como chefe de Estado. Quando a fase é boa, nem mesmo a composição de chapa para 2022 parece ser um problema. A circulação do nome do Geraldo Alckmin não agradou a esquerda, porém não deve se concretizar, já que o futuro ex-tucano deve mesmo disputar o governo paulista. Mas o gesto sinaliza para fora da bolha petista como uma frente ampla em defesa da democracia, além de mostrar que as medidas de recuperação econômica de um hipotético governo Lula 3.0 não seriam tão radicais. O mesmo vale para outros nomes elencados pelo Brasil de Fato que estariam em discussão para compor com Lula, como Luiza Trajano ou Henrique Meirelles. Além disso, lembra Thomas Traumann, Lula tem três desafios pela frente: ganhar a eleição, tomar posse e ter um mínimo de governabilidade. Nenhum deles é fácil e a conversa com Alckmin seria uma antecipação do último desafio. Com o vento a seu favor, o magnetismo de Lula é forte o suficiente para mexer com antigos sentimentos do centrão, desequilibrando a órbita do bolsonarismo, e para ressuscitar o espírito golpista em Dias Toffoli e em Michel Temer que voltaram a defender um sistema semipresidencialista no Brasil.

Esfregando a lâmpada. Se é verdade que a viagem de Bolsonaro pelo Oriente Médio tem motivações econômicas e geopolíticas, ela também confirmou sua simpatia por governos monárquicos, teocráticos e autoritários, condecorando o príncipe herdeiro de Abu Dhabi com a Ordem do Cruzeiro do Sul. A viagem também revela a fragilidade da sua estratégia negacionista para as eleições de 2022. Seu tour foi recheado de fake news, com direito a falas absurdas sobre a Amazônia, depois de ter acobertado os recordes do desmatamento este ano, que só agora vieram à tona. E o gênio da lâmpada Paulo Guedes tentava convencer investidores argumentando que o crescimento brasileiro está acima da média mundial. A viagem contou ainda com um inexpressivo clube do bolinha, onde não poderia faltar o fiel desembargador Marcelo Buhatem, que ajudou a livrar o filho Zero Um da prisão. Mesmo à distância, Bolsonaro ainda conseguiu a proeza de implodir sua filiação ao PL. Não que fosse uma surpresa. A filiação repercutiu mal nas redes bolsonaristas, preocupadas em dar munição ao ex-aliado Moro. Mas, principalmente, Bolsonaro & filhos querem controle e fidelidade total do PL. O que é difícil, uma vez que dos 15 governadores que o PL apoia, pelo menos 7 são da oposição e devem ser candidatos em 2022. Além disso, a família queria escolher os candidatos em São Paulo e Pernambuco, desmanchando acordo anteriores à entrada de Bolsonaro. No xadrez, o pré-candidato tucano em São Paulo, Rodrigo Garcia, poderia até deixar de ser o problema para se tornar o vice numa chapa presidencial. No fim das contas, o presidente da sigla Valdemar Costa Neto recuou, num movimento que ninguém no PL levou a sério. O problema é que Bolsonaro quer uma eleição em preto e branco, enquanto o centrão prefere os tons de cinza, e já está claro que se hoje o dinheiro joga o centrão no colo do governo, amanhã os votos podem jogá-lo no colo de Lula.

Emirados Milicianos Unidos. Mesmo que lhe faltem petrodólares, a ideia de um território controlado de cima a baixo por uma família deve ter sido inspiradora para Bolsonaro. Por conta da pandemia e da crise econômica, este será o menor Enem dos últimos 16 anos e quase três vezes menor que o recorde de sete anos atrás, mas a preocupação de Bolsonaro é que o exame tenha “a cara do governo”, ou seja, censurar duas dezenas de questões que tratassem de temas sociais e econômicos ou que falassem em “ditadura militar”. Mais uma vez, o ministro da Educação Milton Ribeiro desconversou, mas não foi suficiente para convencer a oposição, que deve convocá-lo para dar explicações no Congresso, mas também acionou o TCU e pediu o afastamento do presidente do Inep, Danilo Dupas, acusado de censurar a prova. O Ministério da Justiça é outro aparelho da família e a Polícia Federal investiga se ele foi usado para proteger o blogueiro Allan dos Santos. O que não deve dar em nada, já que a própria PF virou propriedade da família. Nos últimos quatro meses, o diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Maiurino, determinou a troca de seis dos oito delegados do Serviço de Inquéritos (SINQ) que investiga autoridades com foro privilegiado. A decisão se deu logo após auditores do CGU pedirem uma reunião para discutir ações conjuntas para apurar desvios no orçamento secreto. O encontro nunca aconteceu e os delegados foram substituídos. Sem experiência de rua e afastado da corporação por dez anos, Maiurino era a pessoa ideal para Bolsonaro controlar a corporação, como revela o perfil traçado pela Piauí. Além dos afastamentos, Maiurino garante o controle bolsonarista, obviamente, pelas indicações: dez dos vinte e sete superintendentes foram escolhidos a dedo por Bolsonaro ou aliados no Congresso.

Touro de plástico.  Como se fosse uma nova loja da Havan, a Bolsa de São Paulo inaugurou o seu próprio monumento à cafonice com a sua versão mais barata do Touro de Wall Street. Faltou apenas Paulo Guedes correndo com um terno verde e amarelo, mas o ministro estava muito ocupado corroborando as fantasias do chefe em Dubai. Felizmente, os movimentos populares lembram nas ruas e ao próprio touro que no Brasil real as más notícias se acumulam: a previsão da inflação aumentou e a do crescimento diminuiu, o drama do desemprego pode se estender por uma década e até a crise em Belarus pode aumentar o preço dos alimentos, agravando a fome. O último dado alarmante é de que apenas 26% das crianças brasileiras fazem três refeições por dia. Neste cenário, até o boizinho da Bovespa é mais sólido do que as saídas do governo. O Auxílio Brasil começou a ser pago com mirrados R$224, ao contrário dos R$400 prometidos, enquanto aguarda o fim da novela dos precatórios, único projeto de destaque na raquítica pauta de prioridades do governo no Congresso. Nem o anúncio de Bolsonaro de reajustar o salário de todos os servidores têm base na realidade, como alertam os próprios membros do governo, deixando claro que não passa de promessa de campanha. Restam as fantasias que parecem convencer só os ex-sócios de Guedes, que enxergam no desastre do amigo, oportunidades de negócios. O fato é que salvar a economia implicaria em quebrar ovos para fazer a omelete, como cobrar os impostos de milionários nos paraísos fiscais, o que já seria suficiente para pagar o Auxílio Brasil. Mas Paulo Guedes prefere insistir que o combate à fome e à miséria dependem da privatização da Petrobras.

Ponto é editado por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.

Post a Comment

Aviso aos internautas:
Quando você comenta como anônimo, sua opinião não tem nenhum valor e não será publicada. Portanto pedimos aos nossos leitores que ao fazer comentários se identifiquem.
A sua opinião é muito importante para nós.

Postagem Anterior Próxima Postagem