Diante do mundo, Bolsonaro envergonha o Brasil

A Assembleia Geral da ONU teve discurso de abertura feito por um brasileiro, como é tradição desde 1947. Como tem feito desde que assumiu, no entanto, o presidente Jair Bolsonaro usou o palanque mundial para fazer uma live de luxo para seus seguidores no País. Mais ou menos o que ele faz toda quinta-feira, direto da biblioteca decorativa do Planalto, com uma pequena diferença: para fazer uma live curta e irrelevante ele gastou milhões de dólares e levou a Nova York uma comitiva feita, basicamente, de turistas.

Ninguém de seu grupo participou de nenhuma reunião importante, zero acordo bilateral foi anunciado. Enfim, o chapeiro-oficial-da-república, Eduardo Bolsonaro, pode até ter comprado um iPhone novo – mas não houve nenhum benefício real para o Brasil.

O discurso de Bolsonaro foi mais do mesmo: sem graça, mentiroso e irrelevante como tudo que ele diz desde sua posse. Afirmou, da tribuna mais importante do mundo, que assumiu o Brasil quando o País vivia os “riscos do socialismo”. Bobagem. Tivemos mais de 12 anos do PT no poder e nunca corremos esse risco. Foram outros problemas, mas comunismo ou socialismo, nunca. Isso foi apenas a velha e batida estratégia desinformativa de “culpar um inimigo externo” para justificar seus fracassos.

Depois, repetiu que a Amazônia está se recuperando baseado em dados que ninguém viu – e, se viu, não confia. E terminou dizendo que o último 7 de Setembro viu “a maior manifestação da história do povo brasileiro”. Outra mentira, claro. Bolsonaro não tem compromisso com a verdade, nem no Brasil, nem em Nova York.

A parte mais vergonhosa do discurso, no entanto, foi quando ele disse que o Brasil é contra os passaportes para vacina. Defendeu “tratamento precoce“, uma prova de culpa a respeito da disseminação da cloroquina. Ao contrário do que ele disse, o Brasil apoia, sim, esses documentos. O presidente é que não apoia. Com isso, ele envergonha a população brasileira. E por que não apoia? Ele não explica. Diz apenas que o povo deve ter “liberdade” – uma palavra de significado tão nobre fica manchada ao ser pronunciada por um negacionista.

Antes do discurso, é bom lembrar o percurso de Bolsonaro em Nova York. Como de costume, foi repleto de gafes e paspalhices. Foi visto comendo pizza na rua para vender a narrativa de que é alguém “do povo”, quando todo mundo sabe que foi o que sobrou: ele não seria aceito em nenhum restaurante porque não foi vacinado.

Depois encontrou-se com Boris Johnson, premiê britânico, um bate-papo inútil cujo único propósito foi ter servido de escada para Johnson promover a vacina inglesa Astra-Zeneca. O que foi acordado? Sobre o que falaram? Quais foram os temas discutidos pelos dois líderes? Silêncio. Serviu apenas para render uma foto.

Bolsonaro ainda comeu em um puxadinho do restaurante Fogo de Chão – do lado de fora, mais uma vez, porque não foi vacinado – e depois foi vaiado por alguns manifestantes. O resumo da viagem, no entanto, não ocorreu na sede da ONU nem em puxadinho de restaurante: a cena que simboliza o Brasil de Bolsonaro foi protagonizada pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga: ao se deparar com manifestantes que protestavam contra os quase 600 mil mortos brasileiros, vítimas da pandemia, o ministro esqueceu a educação e mostrou o dedo do meio. Desequilibrado, externou em Nova York, para todo o mundo, o que deseja todos os dias para os brasileiros: que a gente se dane.

Artigo de Felipe Machado / ISTOÉ

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