Alvo da CPI, Prevent Senior teria ocultado mortes em estudo sobre eficácia da cloroquina

O plano de saúde Prevent Senior teria manipulado um estudo sobre a eficácia da hidroxicloroquina associada à azitromicina no tratamento contra a Covid-19. Segundo a GloboNews, teriam sido ocultadas mortes de pacientes na divulgação da pesquisa. Nesta quinta-feira, 16, a CPI da Covid ouve o diretor-executivo da empresa, Pedro Benedito Batista Júnior.

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid recebeu um dossiê, ao qual o canal de televisão teve acesso, com as denúncias de irregularidades, que teria sido elaborado por médicos e ex-médicos do plano de saúde. De acordo com o documento, teria existido um acordo entre a Prevent Senior e o governo Bolsonaro.

A pesquisa teve início em 25 de março de 2020 e teve os resultados preliminares divulgados em 15 de abril do mesmo ano. Por mensagem em aplicativos, o diretor da operadora, Fernando Oikawa, passa informações sobre o estudo e afirma aos subordinados que os pacientes e os familiares não devem saber que a medicação foi utilizada. “Iremos iniciar o protocolo de HIDROXICLOROQUINA + AZITROMICINA. Por favor, NÃO INFORMAR O PACIENTE ou FAMILIAR, (sic) sobre a medicação nem sobre o programa.”

No total, foram nove mortes, sendo seis no grupo que tomou a cloroquina e dois no grupo que não recebeu esse tratamento. Um dos pacientes não teve informações sobre protocolo divulgadas.

Os pacientes que tomaram a cloroquina e morreram são duas mulheres de 79 e 70 anos e quatro homens de 85, 62, 83 e 82 anos. Já os que não receberam o tratamento e morreram foram uma mulher de 82 anos e um homem de 68 anos. A nona morte, paciente que não sabe-se o tratamento utilizado, foi de um homem de 66 anos

O coordenador do estudo, o cardiologista Rodrigo Esper, diretor da Prevent Senior, disse que só ocorreram duas mortes. Segundo ele, esses óbitos foram em decorrências de outras doenças, sem relação com a Covid ou com o tratamento. Porém, nenhum dos participantes tinham as doenças consideradas. 

Dias depois, Bolsonaro publicou em suas redes sociais que houve cinco mortes entre aqueles que não tomaram a medicação e nenhuma entre quem tratou a doença com a cloroquina.

 

Logo após a publicação, Esper gravou um áudio no grupo de pesquisadores do estudo com orientações sobre a revisão dos dados. A medida levanta a suspeita de que os números ainda não haviam sido confirmados, mesmo três dias após a divulgação dos resultados. Na mensagem, o médico menciona a postagem de Bolsonaro e defende que os dados precisam ser “assertivos”, “perfeitos”, para que não haja contestação.

“A gente tá revisando todos os 636 pacientes do estudo. Já tem mais ou menos uns 140 revisados, mas a gente precisa fazer a força-tarefa pra acabar isso amanhã. Só que a gente precisa olhar tudo. Se teve eletro (eletrocardiograma) ou não, se teve alteração no intervalo QT ou não, se fez swab pra Covid sim ou não", diz. Ele completa: “Esse áudio tem que ficar aqui, não pode sair.”

Das 636 pessoas que participaram da pesquisa, apenas 266 fizeram eletrocardiogra. Devido os riscos de problemas cardíacos, a medida consta no protocolo recomendado para pacientes que usam a cloroquina. Um dos óbitos, um homem de 83 anos, foi uma das pessoas tratadas com a medicação e apresentou arritmia cardíaca, um dos efeitos colaterais possíveis do medicamento.

Também foi revelado que apenas 93 pacientes (14,7%) estavam testados para a Covid. Desses, 62 foram positivos, o equivalente a menos de 10% dos participantes. Ao receber os dados, a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) suspendeu o estudo após constatar que o envio ocorreu antes da aprovação legal. O Povo

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