Por Altamiro Borges
Em convenção realizada neste sábado (14), em São Paulo, o PSDB oficializou a candidatura de Aécio Neves para presidente da República. A sigla até tentou aparentar otimismo e unidade para a disputa eleitoral de outubro. Mas o cenário não é tão tranquilo assim – e nem a tal coesão tucana é tão sólida. Em seu discurso, o senador garantiu que “um tsunami vai varrer” as esquerdas do poder e fez questão de “resgatar” a herança de FHC – um dos políticos mais detestados do país. Apostando na falta de memória dos brasileiros, ele jurou que “nenhum outro governo, na história recente, deixou um legado de transformações e bases tão sólidas para que o país avançasse como o do PSDB”. Pausa para as risadas!
O mineiro também explorou o midiático julgamento do “mensalão petista”, posando de paladino da ética. Mas não “resgatou” Eduardo Azeredo, ex-presidente da legenda, nem Pimenta da Veiga, candidato do PSDB em Minas Gerais, ambos envolvidos no escândalo do “mensalão tucano” – que a mídia amiga teima em chamar de “mensalão mineiro”. Numa prova de que a oposição direitista vai radicalizar o seu discurso na campanha, FHC atacou a presidenta Dilma, afirmando que a candidatura de Aécio Neves visa livrar o país dos “corruptos, ladrões e farsantes”. Já José Serra, que até ameaçou deixar o PSDB após ser atropelado pelo senador mineiro, garantiu que o partido “está unido” para derrotar o “atraso petista”.
Deixando de lado a agressiva retórica, a convenção tucana, que reuniu 451 delegados, não solucionou os graves problemas do partido. Até agora não há definição sobre o vice de Aécio Neves. Houve até especulação sobre o nome de Serra, mas a bancada mineira tratou de bombardear o paulista. Fala-se agora no senador Aloysio Nunes Ferreira, mas teme-se que o seu nome esteja metido no escândalo do “trensalão tucano” em São Paulo. Para diminuir as pressões, a cúpula do PSDB diz aguardar a definição das outras legendas para anunciar o vice. Até agora o partido só conseguiu atrair o DEM, seu eterno apêndice, o Solidariedade, do deputado Paulinho da Força, e algumas siglas “nanicas”.
Aqui reside o outro problema da legenda. Em função do seu isolamento na política de alianças, ela terá pouco tempo no horário de tevê e rádio que começa em agosto. Segundo estimativas, a presidenta Dilma já garantiu 12 minutos em cada bloco de 25 minutos da propaganda eleitoral; o tucano deve ficar com menos de cinco minutos. Além disso, a sigla esbarra em dificuldades para montar fortes palanques estaduais. Ela não tem candidatos próprios no Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Bahia – entre outros locais de grande densidade eleitoral. Mesmo nos estados em que governa há décadas – como em Minas Gerais e São Paulo – a situação do PSDB também não é tranquila.
Uma notinha publicada na coluna Painel da Folha tucana, em 9 de junho, confirma as dificuldades. “O paulista Geraldo Alckmin ainda não ajudou o mineiro Aécio Neves a decolar no maior colégio eleitoral do país. Entre os eleitores do governador, o presidenciável do PSDB tem apenas 25% das intenções de voto. Está tecnicamente empatado com Dilma Rousseff (PT), favorita de 24% dos alckmistas. Se o quadro não mudar, os tucanos viverão uma revanche de 2006. Naquele ano, Alckmin tentou a Presidência e sofreu com o voto ‘Lulécio’, que uniu Lula e Aécio em Minas Gerais... O governador tem aparecido pouco na pré-campanha de Aécio”, alfineta o jornalista Bernardo Mello Franco.