Mais um capítulo na sonegação de recursos às universidades pelo Governo do Estado de SP

Onde se começa a ter alguma ideia de tudo que o governo estadual deixou de repassar a USP, Unesp e Unicamp de 2008 a 2013

Conforme noticiado no Informativo Adusp 379, as universidades estaduais paulistas deixaram de receber do governo do Estado, só em 2013, R$ 540,41 milhões, devido a manobras contábeis. A Tabela I, abaixo, indica os valores nominais deixados de receber entre 2008 e 2013. Cabe lembrar que além dos descontos indevidos dos montantes destinados à Habitação e ao programa Nota Fiscal Paulista (NFP), as alíneas de execução orçamentária desconsideradas pelo governo no cômputo dos 9,57% devidos à USP, Unesp e Unicamp são as seguintes (ver nos parêntesis sua identificação formal):

Multas e juros de mora do ICMS (1911);
Multas e juros da dívida ativa do ICMS (1913);
Multas por infração do regulamento do ICMS (1919 50);
Receita da dívida ativa do ICMS (1931 15);
Outras receitas, provenientes de acréscimo financeiro sobre ICMS não inscrito, referentes aos programas de parcelamento incentivado (PPI) e de parcelamento especial (PPE) (1990 99).

Tabela I - Valores não repassados às universidades estaduais paulistas - 2008-2013 (em R$ milhões)

 200820092010201120122013
Habitação568,12322,04662,10741,191.083,001.053,00
NFP203,80804,00971,001.142,001.313,001.302,00
1911555,24425,40534,26667,32545,002.846,70
191359,0582,67132,82240,4532,55116,50
1919 5039,6183,40128,83186,667,8568,20
1931 1534,9532,8542,1257,6579,5631,70
1990 99129,73167,54236,66303,90296,03228,80
Total1.590,501.917,902.707,793.339,173.356,995.646,90
Valor não repassado152,21183,54259,14319,56321,26540,41
Fontes: Secretaria de Estado da Fazenda e planilhas Cruesp

Devido à inflação, não é adequado simplesmente somar os totais não repassados às Universidade entre 2008 e 2013; mas, ape­nas para se ter uma ideia, o valor nominal devido pelo governo do Estado a estas instituições no período é R$ 1,776 bilhões!

Contudo, utilizando-se o Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) da Fundação Getúlio Vargas é possível obter uma melhor estimativa do total atualizado para 2013, em R$ milhões (ver Tabela II).

Tabela II - Estimativas do que não foi repassado às universidades paulistas - 2008-2013 (em R$ milhões)

PeríodoIGP-DI (%)Valor nominalValor atualizado
Dez/13 a dez/13-540,41540,41
Dez/12 a dez/135,53321,26339,03
Dez/11 a dez/1314,09319,56364,59
Dez/10 a dez/1319,81259,14310,48
Dez/09 a dez/1333,35183,54244,75
Dez/08 a dez/1331,44152,21200,07
Total atualizado
1.999,33

Ou seja, uma estimativa que leve em conta apenas a evolução inflacionária média do período em questão indica que entre 2008 e 2013 o governo deixou de repassar às universidades estaduais paulistas o mon­tan­te de R$ 2 bilhões!

Esta questão é central na nossa luta, tanto com o governo do Estado, quanto com o Cruesp, que vem se submetendo a esta prática política. Assim, será necessário intervir com energia no debate da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2014, para reverter a sonegação de recursos para a educação superior pública paulista.

Ataque ao ensino, pesquisa e extensão?

Imediatamente, ocorre-nos indagar: será que o análogo não estaria acontecendo com a Fapesp? É bom lembrar que, fruto da nossa luta, a Constituição Paulista de 1989 destina 1% da receita de impostos do Estado de São Paulo a esta fundação pública. O governo está fazendo a conta direito? Estaria utilizando o mesmo método que com as universidades estaduais? Registre-se que qualquer resposta a esta questão não deixa de ser muito interessante... Se a resposta for sim, a conclusão óbvia é a de que parte importante da capacidade pública instalada de ensino, pesquisa e extensão está sendo atacada; se a resposta for não é imperioso questionar: por que só as universidades estariam sendo vítimas desta política?

Em tempo

Muito embora o Fórum das Seis tenha protocolado em 28/3 suas reivindicações de data-base 2014 e insistido sobre a importância de iniciar as negociações o mais cedo possível (propusemos várias datas, ainda em abril), até agora o Cruesp dispôs-se apenas a agendar uma reunião para 12/5, após reunião das respectivas comissões técnicas em 8/5. Lutar na Assembleia Legislativa de São Paulo? Enfrentar o governador em defesa das universidades estaduais? A ver... Se a história é guia, a proposta da administração será apenas arrocho de salários e de verbas de custeio e manutenção das atividades fundamentais de ensino, pesquisa e extensão.

Aceitaremos isto?

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