Esse dinheirinho cai bem

Pesquisa nacional de bolsa auxílio 2013 aponta o ranking dos estágios mais bem remunerados no país por área. Agronomia é o 1º no nível superior. Mas, segundo especialistas e quem já viveu a experiência, foco do estagiário deve ser sempre o aprendizado

Guilherme Quinderé:
curso em tempo integral complica estágio
Dinheiro não é tudo, mas bem que ajuda nas despesas de todo estudante. Pois sabia que tem estagiário de nível superior ganhando por mês mais de dois salários mínimos e meio, melhor do que muitos já em vida profissional? E isso nem é em Medicina ou Direito, que sempre despontam como áreas mais procuradas nos exames de seleção para a vida acadêmica. 

Segundo a Pesquisa Nacional de Bolsa Auxílio 2013, feita pelo Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube), o estudante de Agronomia é o estagiário mais bem pago no Brasil. Chega a receber até R$ 1.948,94 por mês - dependendo da região e do lugar onde esteja “empregado”.

Depois de Agronomia – também ainda não são Medicina nem Direito –, as melhores remunerações de estágio superior estão em Economia (R$ 1.370,26) e Física (R$ 1.360,83). Com Ciências Atuariais (R$ 1.281,44) e Marketing (R$ 1.278,25) na sequência.

A média nacional do estagiário universitário chega a R$ 964,81. Também foram listados os maiores salários de 2013 para os níveis superior tecnológico (R$ 1.240,65 – Construção Civil) e médio técnico (R$ 817,50 - Eletrotécnica) e a média nacional da remuneração para o estagiário nível médio (R$ 513,73).

A pesquisa indica um aumento de 11,2% nos valores pagos em relação a 2012. A média geral (considerando todos os níveis) do ganho agora é R$ 859,45. Se considerada a faixa etária houve pouca diferença de remuneração. Os que têm de 19 a 23 anos recebem, em média, R$ 961,35. Já os de 24 a 29 anos ganham R$ 985,52.

Para a pesquisa do Nube foram ouvidos 23 mil estagiários de diferentes níveis e áreas em todo o país. As abordagens foram feitas entre 14 de outubro e 25 de novembro do ano passado. O levantamento também constatou que, na conta geral entre todas as profissões para quem está chegando ao mercado de trabalho, ainda há problemas quanto a mulheres ganharem menos que homens.

Enquanto os rapazes receberam R$ 915,21 de média em 2013 (alta de 11% sobre 2012), as estagiárias tiveram média mensal de R$ 819,63 (crescimento de 11,7%). O presidente do Nube, Seme Arone Júnior, explica que essa diferença “não é gerada por preconceitos ou competências desiguais, mas pelo fato de existirem mais homens no campo das exatas, uma das áreas mais bem remuneradas”.

Arone Júnior diz que é importante o jovem ter uma formação qualificada para conseguir boas oportunidades na vida profissional. “Apesar da melhora nas remunerações, ainda há poucas vagas em relação ao número de candidatos”. Uma dica básica para os que queiram ingressar no mercado de trabalho, orienta, “é o aprendizado contínuo e o investimento em língua portuguesa”. É um dos pontos mais cobrados em processos seletivos, segundo ele.

O presidente do Nube aponta as vantagens das empresas ao contratarem estagiários. “Se as organizações recrutam pessoas dedicadas, também saem ganhando, pois poderão formar um colaborador ainda sem vícios corporativos, dentro da cultura da própria instituição”. E diz que “investir no desenvolvimento dos estudantes representa uma ajuda direta para o país formar bons profissionais, nas mais distintas áreas”.

O Nube faz um alerta importante quanto à preocupação excessiva dos jovens diante das bolsas: a vocação do estágio é o desenvolvimento profissional. Mais importante do que o valor a receber é pensar nas condições de aprendizado, no desafio, no plano de atividades e também na própria carreira. Focar apenas na bolsa pode mais atrapalhar do que ajudar.

Guilherme Quinderé Sabadia, 25, conclui este mês o estágio de Agronomia numa empresa da área de defensivos agrícolas. Após 10 meses, será obrigado a sair porque se formou e agora tentará o mercado de trabalho como profissional graduado. Aluno da Universidade Federal do Ceará (UFC), diz que “o mais complicado de estagiar é que o curso de Agronomia é em tempo integral”. Ele disse ter conhecido poucos da faculdade que tentaram estagiar enquanto estudavam. Seu estágio anterior havia sido nas férias de 2011, numa empresa produtora de rosas na Ibiapaba.

Como estagiário, salário mais benefícios (ajuda para transporte e  alimentação) lhe rendem R$ 1.280,00/mês, por 30 horas semanais de trabalho. “Ah, ajuda, sim”, confirma Guilherme. “É difícil, mas é importante para o currículo ter alguma experiência. Depende do que você esteja procurando. Se for seguir a carreira acadêmica, o caminho não é esse. Se for para o mercado, é importante. É algo extra-acadêmico, a gente aprende”.

Números
23 mil estagiários foram ouvidos pelo Nube para a pesquisa. Segundo a Associação Brasileira de Estágios (Abres), Brasil tem atualmente 1 milhão de estagiários

Saiba mais
O Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube) é uma organização privada que insere jovens no mercado de trabalho, intermediando estudantes, empresas e instituições de ensino.

Tem cadastradas mais de 12 mil instituições de ensino e 6 mil empresas. Inseriu mais de 500 mil estudantes no mercado, desde 1998.

Todos os participantes ouvidos na pesquisa do Nube possuem contratos pelas regras da nova Lei de Estágio nº 11.788/08.

Segundo a Associação Brasileira de Estágios (Abres), o país tem mais de 1 milhão de estagiários. Mas há 9,3 milhões de estudantes no ensino médio e mais de 7 milhões no ensino superior (dados do MEC 2012).

Frases
"Se as empresas recrutam pessoas dedicadas, saem ganhando, pois poderão formar um colaborador ainda sem vícios corporativos"

Seme Arone Júnior, presidente do Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube)

"Cuidado com a preocupação excessiva diante dos valores das bolsas: a vocação do estágio é o desenvol-vimento profissional."

Seme Arone Júnior, presidente do Núcleo Brasileiro de Estágios

Há estudantes, faltam mais estágios

Para o presidente do Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube), Seme Arone Júnior, que realizou a pesquisa sobre remuneração de estagiários no Brasil, lamenta que as poucas vagas disponibilizadas para estágios no País. Há 16 milhões de estudantes e apenas 1 milhão de estagiários no Brasil. “Infelizmente é um número muito pequeno de oportunidades de estágio diante de tantas empresas no país”. Ele afirma que as empresas brasileiras hoje têm “um dever de casa”: estimular a formação e empregabilidade de jovens. Senão, alerta o presidente, faltará mão de obra e os custos empresariais aumentarão. A entrevista foi respondida por email.

O POVO - Na pesquisa, há áreas que tiveram mais avanços nos valores. Isso significa que podem ser consideradas mais promissoras?

Seme Arone Júnior -A pesquisa revela onde pode existir demanda maior por profissionais. Quando existe a falta de determinado estudante ou profissional no mercado de trabalho, as empresas de setores aquecidos ficam mais dispostas a formar profissionais desde a universidade. Uma dica importante é monitorar as carreiras e saber se a escolhida está em alta. 

OP - A que o senhor atribui a remuneração tão satisfatória para um estagiário de Agronomia?
Seme - O setor do agronegócio no Brasil, nos últimos anos foi um dos setores com maior crescimento e contribuição para a alta do PIB.Entretanto, as universidades não ampliaram a formação na mesma proporção da demanda do mercado de trabalho. Quando há uma demanda sem oferta existe uma valorização. Como uma empresa de fertilizantes pode crescer sem pessoal qualificado para dar suporte técnico para os empresários do setor? Neste cenário, as corporações ligadas ao agronegócio dividiram um recurso humano escasso e competirão pelos profissionais para perpetuar o seu negócio ou ficarão com seus serviços comprometidos.

OP - Essas boas remunerações em algumas áreas reforçam a questão da falta de profissionais em muitos campos de trabalho?
Seme - Quando um setor fica aquecido por muito tempo e demanda por profissionais, as empresas fazem seus processo de recrutamento e seleção para suprir suas necessidades de recursos humanos. Esgotado os profissionais formados, a saída lógica é ir nas universidades e escolas técnicas buscar estudantes e formar jovens talentos para preencher as novas vagas, pois elas naturalmente aparecerão, seja pela rotatividade natural do negócio ou pelo aquecimento do setor.

OP - O jovem deve desistir de um estágio não tão bem remunerado?
Seme - O jovem precisa buscar uma motivação para acordar e ir à universidade, pois essa paixão e alegria na carreira são essenciais para ter sucesso. Trocar algo prazeroso por outro curso apenas pelo mesmo oferecer melhor remuneração pode gerar eterna frustração. Cuidado com a preocupação excessiva diante dos valores das bolsas: a vocação do estágio é o desenvolvimento profissional. É preciso pensar nas condições de aprendizado, no desafio, no plano de atividades e até mesmo de carreira, oferecidos pelas organizações. Focar apenas na bolsa pode ser um tiro no pé.

OP - A política de estágio no Brasil (remuneração e preparação), recém-reformulada, ainda tem distorções?
Seme - O Estágio é o melhor programa de governo para inserir jovens no mercado de trabalho. Provê renda por meio da bolsa auxílio, mantém o jovem na universidade, financia os estudos e diminui a evasão escolar. De acordo com a nova pesquisa do Inep/MEC (2012), temos mais de 16 milhões de estudantes no ensino médio, médio técnico e superior e apenas 1 milhão são estagiários. Ou seja, infelizmente é um número muito pequeno de oportunidades de estágio diante de tantas empresas no país. O governo é o maior empregador de estagiários no Brasil. Estimular a formação e empregabilidade de jovens é quase um dever de casa das empresas. Se o empresário não cuidar desse recurso tão importante para seu negócio prosperar, faltará mão de obra e aumentará seus custos. Fica outro alerta para a necessidade de ampliar as vagas de estágio e garantir os futuros profissionais para a empresa e também para ajudar no crescimento de nossa nação. Com a nova Lei de Estágio (11.788/08), há mais segurança jurídica para as empresas investirem em formar jovens por meio do estágio, bem como incentivos sociais na contratação. Isso é bom para o estudante, para a instituição de ensino e para o país.

Post a Comment

Aviso aos internautas:
Quando você comenta como anônimo, sua opinião não tem nenhum valor e não será publicada. Portanto pedimos aos nossos leitores que ao fazer comentários se identifiquem.
A sua opinião é muito importante para nós.

Postagem Anterior Próxima Postagem