Novos tempos, novas bandeiras, outros desejos

Especialistas consideram que, ao contrário do que se possa imaginar, a atual geração de jovens não é apática politicamente. Eles teriam apenas novas bandeiras de luta, menos ideológicas e mais próximas de seu cotidiano

Hoje, quando se analisa o cenário político das décadas de 1960 a 1980, os ícones e as ideologias dos jovens daquela época são mais facilmente identificados. Nas duas últimas décadas, porém, fatos mundiais, como a queda da União Soviética, e nacionais, como a estabilidade político-econômica, fizeram as bandeiras de luta da juventude serem modificadas, criando um panorama mais heterogêneo. Será que o jovem de hoje é menos politizado?

Para Danyelle Nilin Gonçalves, professora da Universidade Federal do Ceará (UFC) e estudiosa da atuação dos movimentos jovens na política, atualmente não há uma acomodação dos jovens de forma geral, mas sim, diferentes formas de atuação, inseridos em um momento histórico diferente. Além disso, ela considera que o desencanto com a forma tradicional de política já existia em outras épocas e no atual momento é comum em sociedades democráticas.

“Não é verdade que toda a geração dos anos 60 se envolveu contra a ditadura, mas apenas parte dela (juventude)”, compara Danyelle. De acordo com a pesquisadora, o grande número de escândalos políticos no Brasil faz com que a sociedade em geral, e em especial os jovens, por não terem referenciais políticos, enxerguem a política como algo restrito aos políticos. “A questão é que a política se alimenta do vigor, aí quando não vemos isso temos a ideia de que os jovens estão apáticos”.

Apatia que às vezes não é maior que o desejo de mudança, como no caso da estudante Jordana Souza, 16, que, embora esteja descrente com a política e considere que “a maioria (dos políticos) é de corruptos”, diz que se antecipou à obrigatoriedade do voto porque realmente quer participar do processo. “O voto é importante pra tentar melhorar o mundo”, resume.

Em vez das antigas bandeiras ideológicas de direita ou esquerda, a juventude atual estaria interessada em questões práticas, que estão mais próximas no dia a dia, como a luta por melhorias na escola, pelo direito a meia entrada em eventos, pela igualdade de direitos dos homossexuais ou ainda pela causa ambiental.

“Antigamente, ser jovem era ser de esquerda, e isso não vamos mais assistir nas próximas eleições”, analisa o doutor em sociologia Clézio Arruda.

Nesse contexto de novos comportamentos e reivindicações, a internet ocupa papel fundamental na formação do jovem. “Estamos vivendo outro mundo social com a revolução tecnológica”, explica Arruda.

Ele exemplifica citando alguns casos que começaram na internet e logo evoluíram para discussão política em maior grau, como a onda de preconceito contra nordestinos, logo após a eleição presidencial de 2010.

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