Foto: Alexandre Brum / Agência O Dia |
Depois de mais de 60 horas de julgamento, dividas em cinco dias, e após quase cinco anos do assassinato do ganhador da Mega-Sena, Renné Senna, o Ministério Público pediu, ontem, a condenação da viúva do milionário, Adriana Almeida. A audiência ocorreu, ontem, no tribunal do júri de Rio Bonito, local onde aconteceu o assassinato.
Os outros julgados, Janaína Silva de Oliveira, 34 anos, Marco Antônio Vicente, 36 anos, e Ronaldo Amaral de Oliveira, 50 anos, foram absolvidos pelo Ministério Público.
Durante o último dia de debates (sustentações, réplicas e tréplicas), defesa e acusação se intercalaram em quase intermináveis discursos e, apoiada em o que chamou de colcha de retalhos, a promotora Priscila Vaz pediu a condenação da acusada de ser a mandante do crime.
“Eu estou convencida que a Adriana Almeida é a mandante do crime e que ela teve todos os motivos para decidir executar o seu então marido, já que ele havia decidido, em comentários com diversas pessoas, excluí-la do testamento. Ela é gananciosa e não estava satisfeita com o que já tinha. O MP não tem dúvida que ela é a mandante desse crime bárbaro e cruel, que tirou a vida de um homem generoso e sonhador. Quanto aos PMs acusados, o MP não pode afirmar que não são culpados, mas não há provas que o incriminem”, sustentou a promotora, que acrescentou: “Quanto a Janaína Silva, o fato dela ser mulher de Anderson Souza não a incrimina. Não tenho convencimento para a participação dela nesse crime”.
A defesa alegou que o MP não apresentou provas concretas contra a sua cliente. O advogado Jackson Costa, porém, fez um discurso inflamado.
“As acusações foram lamentáveis, infantis e covardes, além de preconceituosas. Qual é o problema de uma mulher nova se envolver com um homem milionário e sem as pernas”, questionou o advogado. Ele reforçou ainda. “ O que a promotora apresentou foi, na verdade, dedução. Ela ligou um fato ao outro e deduziu, não provou. Prova é prova e, neste caso, ela não existe.
A revolta do advogado, na verdade, é baseada nas interceptações telefônicas feitas pela Justiça, que mostram inúmeras ligações do então segurança de Renné, Anderson Souza, para Adriana Almeida, inclusive nas horas que antecederam o crime.
Promotora - A promotora condenou a situação já que, por diversas vezes, a viúva afirmou categoricamente que, depois da demissão de Souza, em setembro de 2006, nunca mais teve contato com ele.
Durante o depoimento do também ex-segurança Alexandre Cipriano, ele afirmou que, horas depois a morte de Renné Senna, ele a Adriana foram buscar o pai dela na rodoviária de Rio Bonito, e que foi confirmado pela própria Adriana.
A defesa levou mais um golpe, quando a mãe da acusada, Creuza Ferreira Almeida, afirmou que o pai de Adriana não esteve em Rio Bonito no dia do crime. Em sua fala, o advogado preferiu acusar Renata Senna, filha da vítima.
“Renata mentiu. Ela falou que às 16h deu depoimento à polícia e logo depois foi para o sepultamento. Ela tinha todo o interesse em querer matar o pai, até porque, ele queria fazer exame de DNA para ter certeza se era pai dela, ou não, já tinha essa dúvida”, argumentou Jackson Costa.
Ligações - Mesmo depois de ter deixado de prestar serviço para a família Senna, Anderson Souza continuou a manter contato com Adriana, que sempre negou. A justiça, porém, rastreou as ligações entre os dois e comprovou os contatos. A promotora descreveu minuciosamente os horários e locais em que partiram as ligações no dia do crime.
Uma das ligações recebidas por Adriana foi feita, às 8h29 do dia 7 de janeiro de 2007, de um orelhão (telefone público), em Trindade, São Gonçalo. Dezesseis minutos depois, Adriana recebeu ligação do mesmo número. Já às 10h35, um contato é feito de um orelhão localizado no centro de Rio Bonito, seguidas por duas outras ligações.
Às 11h daquele dia Renné Senna é assassinado e, 2h26 minutos depois, um outro aparelho de telefone público faz uma outra ligação para Adriana. A última ligação do dia foi feita às 20h10, de um orelhão da Trindade, para Adriana Almeida, que afirmou que, na verdade, as ligações eram feitas por seu pai, Valdir.
A promotora Priscila Naegeli Vaz afirmou que as inúmeras provas isoladas não condenariam a principal acusada. Porém, juntas, elas fecham a trama complexa e criminosa. A promotora declarou ainda que vai pedi a prisão do ex-segurança da família, Alexandre Cipriano, já que ele confirmou, em depoimento no tribunal, que buscou Valdir (pai de Adriana) na rodoviária, versão diferente da que foi dada na Delegacia de Homicídio. Para ela, Cipriano estava ‘esquecido’ entre os 70 depoimentos dados na DH.
Milionária
Priscila Naegeli Vaz afirmou que tudo nesse processo é por conta do dinheiro e que Adriana Almeida continuará milionária, já que em seus nomes há bens como uma cobertura em Arraial do Cabo, carros e metade da fazenda está em seu nome. Para se ter uma ideia de valores aproximados, a casa da praia foi comprada por R$ 300 mil e o valor que corresponde a metade da fazenda é de R$ 4,5 milhões.
O São Gonçalo Online